Autora: Dra. Elsa Frazão Mateus, Presidente da Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas.
1. Como surge esta ideia de criar um evento diálogos em saúde e quais os objetivos que se propõem alcançar? Estes foram atingidos nesta 1a edição?
Vários fatores estiveram na base da criação deste evento. Por um lado, a vontade de assinalar o 35.º aniversário da Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas e o 25.º aniversário da Associação de Doentes com Lúpus, numa zona do país onde escasseiam eventos sobre saúde organizados para as pessoas com doença e público em geral e onde existe falta de reumatologistas no Serviço Nacional de Saúde. Por outro lado, a importância da comunicação, dos diálogos em saúde entre vários agentes, quando a cidadania em saúde é o primeiro dos quatro Eixos Estratégicos do Plano Nacional de Saúde e o modelo da centralidade do cidadão pressupõe a partilha de informação e de conhecimento para promoção da literacia em saúde, de proatividade, da capacitação e empoderamento para a promoção da saúde e gestão da doença. Portanto, é preciso dar informação credível aos cidadãos para que possam tomar as suas decisões informadas e gerir os seus processos, de acordo com essa informação e as suas crenças pessoais. Atendendo às recomendações para a utilização de terapias não-farmacológicas enquanto aliados na gestão das doenças reumáticas, à necessidade de estudos e evidências quanto à eficácia e segurança dos diversos tipos de intervenção e à tendência para o crescente recurso às terapêuticas não convencionais, pareceu-nos ser importante começar pela promoção do conhecimento e do diálogo entre estas diferentes abordagens, para que os cidadãos possam decidir de forma informada, sem prejuízo da sua saúde.
Por isso, estabelecemos como objetivos promover o diálogo com as abordagens terapêuticas complementares orientadas para as doenças reumáticas e promover a proatividade das pessoas com doença reumática na gestão da sua saúde, como contributo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com doenças reumáticas no Algarve. Pensamos que estes objetivos foram atingidos.
2. Algum aspeto que queira destacar nesta jornada e o que poderá ser melhorado numa próxima edição?
Tratando-se da primeira edição, foi muito gratificante verificar a pronta adesão e participação das várias entidades: da Universidade do Algarve, incluindo a Escola Superior de Saúde e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Câmara Municipal de Faro, do Centro Hospitalar do Algarve Hospitalar e da ARS do Algarve, além da Plataforma Saúde em Diálogo. Foi, também, muito positivo podermos contar com especialistas de várias áreas e possibilitar o diálogo entre as diversas abordagens. No entanto, apesar disso, a participação do público ficou aquém do que ambicionámos, o que nos faz refletir acerca da importância de melhorarmos a comunicação e, sobretudo, de continuarmos a promover a participação e envolvimento das pessoas com doença e do público em geral, ainda pouco habituadas a terem espaços de diálogo e de intervenção direcionados para o esclarecimento das suas dúvidas. Registamos, com agrado, a avaliação bastante positiva dos participantes o que nos incentiva a pensar nas próximas edições.
3. De que forma é possível melhorar a qualidade de vida dos doentes com reumatismo? E a prevenção, o que é que pode e deve ser feito neste domínio?
De uma forma geral, a atividade física, o exercício adequado à condição específica é muitíssimo importante na manutenção da funcionalidade e mobilidade e com outros benefícios, a nível do bem-estar físico e emocional. O chamado ciclo da dor impede muitas vezes os doentes reumáticos de praticarem atividade física, com receio de agravarem a sua condição. É importante que consigam encontrar a forma mais adequada ao seu caso. Uma alimentação saudável e equilibrada, por exemplo, é outro aspeto que, além de reduzir o risco de obesidade que não é benéfica às articulações, pode influenciar os comportamentos inflamatórios e até a ação dos medicamentos. Mesmo a medicação deve ser tomada conforme é prescrita pelo médico, caso contrário pode não produzir o efeito desejado e provocar problemas adicionais. Os doentes devem dialogar abertamente com o seu médico acerca da medicação, esclarecendo dúvidas, expondo receios, efeitos adversos e outras terapêuticas que façam, como suplementos alimentares e produtos naturais, uma vez que estes também podem interagir com a medicação. O controlo da dor é outro fator importante para uma melhor qualidade de vida e existem estratégias não medicamentosas que podem ajudar.
No que se refere à prevenção, além de evitar os fatores de risco já conhecidos, como o excesso de peso, o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas – o que, de resto, contribuirá para a melhoria do estado de saúde em geral – haverá muito ainda a fazer, principalmente nas lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho, com a aplicação da ergonomia e da saúde ocupacional. Esta é uma área que nos preocupa duplamente: tanto pelo aspeto da prevenção, como na adaptação dos postos e condições de trabalho das pessoas com doença reumática que lhes permitam o exercício da sua atividade profissional, com todos os ganhos inerentes em qualidade de vida e para a própria sustentabilidade do sistema, na redução de reformas antecipadas por incapacidade.