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Entrevista: Alexandre Lourenço, Presidente da APAH – Associação Portuguesa de Administração Hospitalar

– Desde sempre a profissão de Administrador Hospitalar em Portugal, tem lutado pela falta de reconhecimento oficial sobretudo nas nomeações para os mais altos cargos de chefia hospitalar, esta situação como tem evoluído?

A carreira de administração hospitalar existe desde 1968, tendo ficado consagrada a exigência do curso de administração hospitalar como habilitação indispensável. A partir de 1988 existem vários desenvolvimentos na desregulação das exigências para o exercício da gestão hospitalar e uma crescente partidarização desta atividade.

Recentemente, o Ministério da Saúde veio reconhecer a necessidade de revisão da carreira de administração hospitalar com vista a assegurar qualidade na gestão intermédia e de topo das instituições do SNS. Neste sentido, temos todos os motivos para encarar o futuro positivamente.

– Esta tendência é idêntica nos outros países da Lusofonia, ou há diferenças? Quais os países mais exemplares do ponto de vista da profissionalização da gestão em saúde? Existem vários modelos nesta área que passam pela frequência e aproveitamento em formação específica (e.g. França) ou pela certificação de avaliação de competências (e.g. EUA).

Os hospitais são organizações extraordinariamente complexas pela utilização intensiva de recursos humanos, capital, tecnologia e conhecimento. Peter Drucker afirma mesmo que representam a forma mais complexa de organização humana que alguma vez se pretendeu gerir. Efetivamente, longe vai o tempo em que se acreditava que as organizações de saúde eram tão simples de gerir que poderiam ser facilmente liderados por profissionais não preparados. Assim, não é aceitável que a administração seja desempenhada por políticos, curiosos ou profissionais de saúde sem um conhecimento profundo dos métodos e dos instrumentos de gestão hospitalar.

Estas questões merecem atenção e consenso internacional. Quer a International Hospital Federation, quer a European Hospital Managers Association reconhecem a necessidade de formação e competências específicas, tendo-se definido uma estrutura referencial de conhecimentos para o exercício da profissão. Ou seja, existe também um caminho internacional comum no sentido de assegurar a profissionalização em saúde.

– E por falar em profissionalização de gestão nos hospitais, verifica-se hoje que essa tendência chega aos órgãos de topo do próprio Ministério da Saúde em Portugal – que eu já referi como tendo um “dream team” pelo currículo e ampla experiência de gestão do actual Ministro e Secretários de Estado. Concorda com este ponto de vista? Em que medida o efeito dos “ciclos políticos” na sucessão de governos entre a esquerda e direita pode prejudicar o bom desempenho de um Serviço Nacional de Saúde e como se podem minimizar estes inconvenientes?

A implementação de políticas públicas exige excelentes Políticos. Neste sentido, os membros do Governo são por definição Políticos que se comprometem a executar um Programa de Governo. É importante que sejam acima de tudo bons Políticos. Se a essa característica adicionarem um elevado conhecimento técnico do setor, excelente.
O SNS é uma construção permanente dos Portugueses. O Serviço que conhecemos hoje é muito diferente de há 30, 20 ou 10 anos. Importa garantir consensos alargados na construção futura do SNS. Ou seja, precisamos Políticos Excelentes.

– As chamadas “novas profissões” em Saúde tem vindo a reivindicar igualmente mais reconhecimento por parte do Estado que ainda é o maior empregador em Saúde e que, de certo modo, estabelece as bitolas de contratação para o sector privado. Como encaram os Administradores Hospitalares um conjunto de profissões cada vez mais diversificado e especializado (no caso da Enfermagem) no seio dos hospitais, um mal necessário?

O sistema de saúde é desejavelmente mutável, tal como os seus atores. O surgimento de novas profissões e revisão das mais tradicionais deve ser encarado com naturalidade. Repare que, por um lado os níveis de diferenciação são crescentes exigindo a hiperespecialização. Por outro, atividades que exigiam profissionais mais qualificados podem ser hoje realizadas com segurança e qualidade por profissionais com qualificações diferentes. Apesar de tudo, estes desenvolvimentos exigem cada vez mais profissionais que sejam capazes de realizar a soma das partes e se centrem no indivíduo como um todo.

By | 2018-04-10T12:07:22+01:00 Fevereiro 8th, 2017|Categories: ENTREVISTAS|Comentários fechados em Entrevista: Alexandre Lourenço, Presidente da APAH – Associação Portuguesa de Administração Hospitalar

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