A Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT) defende que apesar de os dados recentemente publicados pelo Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST) serem bastante positivos, Portugal continua aquém do seu potencial de colheita e transplantação de órgãos.
Os dados da doação e transplantação de órgãos em 2016 apontam para um aumento de órgãos colhidos de dador falecido, que subiram de 896 em 2015 para 936 no ano passado. Destes, foram transplantados 784 órgãos, o que reflete uma taxa de utilização de 84% (face a 79% no ano anterior).
Susana Sampaio, presidente da SPT, considera que “este aumento do número de transplantes reflete o esforço de todos os profissionais envolvidos na área da transplantação, desde as Unidades de Cuidados Intensivos que sinalizam os potenciais dadores, Gabinetes e equipas de Colheita até aos profissionais das Unidades de Transplantação, que apesar da grande limitação de recursos humanos, permitiu atingir os números que nos enche de satisfação, mas podemos fazer melhor, os números ainda não atingiram os valores de 2009 em que foram efectuados 595 transplantes renais e 573 em 2010 (499 em 2016).
“É necessário otimizar ainda mais as colheitas dado que continua haver grandes assimetrias entre hospitais e gabinetes de transplantação. Temos unidades hospitalares que não detetam todos os potenciais dadores e colhem órgãos muito aquém do que deveriam, uma situação relativamente à qual temos lançado repetidos alertas. É também fundamental repensar a rede de coordenação da colheita. Os registos da atividade ainda são arcaicos e a informação muitas vezes não circula entre os profissionais da área”, explica a presidente da SPT.
A especialista afirma também que as colheitas de órgãos poderão crescer “assim que arrancarem os programas de colheita em paragem cardiorespiratória em Lisboa e Coimbra”. Atualmente só o Centro Hospitalar S. João, no Porto dispõe desta técnica de colheita.
Susana Sampaio lembra que “como em qualquer país, o número de órgãos disponível não consegue suprir as necessidades. Além de aumentar a colheita e a taxa de aproveitamento de órgãos, é necessário aumentar a doação em vida com campanhas de incentivo e de informação sobre este tipo de doação”. Relativamente à colheita de órgãos em vida, a presidente da SPT considera ainda que é muito importante fomentar a colaboração com Espanha, de modo a poder otimizar o Programa Nacional de Doação Cruzada Renal.