Autor: Joaquim Cerejeira, psiquiatra e presidente da Associação Cérebro & Mente.
A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma doença neuropsiquiátrica crónica que se carateriza pelo excesso de atividade motora, impulsividade e/ou desatenção, em maior frequência e gravidade do que habitual, perturbando negativamente a capacidade para estudar, trabalhar ou ter relacionamentos familiares e sociais. Estima-se que afete entre 5 a 7 por cento das crianças em idade escolar e cerca de 4 por cento dos adultos.
Usualmente a doença é identificada e tratada na infância. Contudo existem casos em que a doença persiste na idade adulta e casos em que o diagnóstico só surge nessa altura. O diagnóstico precoce ou reconhecimento da doença na vida adulta é fundamental para evitar consequências mais graves.
As pessoas com PHDA habitualmente demonstram, na vida adulta, uma atividade mental incessante, sensação de inquietação (por exemplo têm as mãos e pés inquietos quando estão sentados), dificuldade em manter a atenção na leitura ou na televisão, fraca concentração e incapacidade para se envolver em atividades calmas ou sedentárias.
Os adultos hiperativos são irrequietos, falam excessivamente, sentem-se oprimidos, têm baixa tolerância à frustração, rápidas variações de humor, desorganização (de tempo, dinheiro, no lar, no trabalho) e procuram sensações fortes e de gratificação imediata, o que pode resultar em comportamentos “viciantes”, como abuso de drogas, álcool, jogos e internet.
De acordo com um estudo realizado em Portugal, em 2013, cerca de 75 por cento dos adultos com PHDA apresenta pelo menos uma outra perturbação psiquiátrica comodepressão, ansiedade, dificuldades específicas de aprendizagem, abuso/dependência de substâncias ou perturbações do sono.
O diagnóstico, tratamento e acompanhamento adequado pode ajudar os adultos a gerir a PHDA, reduzindo o impacto negativo nas suas vidas. Infelizmente, em Portugal, a resposta do Sistema Nacional de Saúde para os adultos com PHDA é ainda muito escassa, quer pelo reconhecimento relativamente recente desta doença, quer pela própria negação da mesma por muitos psiquiatras de adultos.
Esse tema esteve em debate no 7º Simpósio PHDA que decorreu em Coimbra, entre os dias 3 e 5 de maio.