Especialista em informática médica diz que hospitais e médicos precisam aprender a trabalhar com tecnologia aplicada à saúde desde a universidade
Presidente do Conselho da Associação Americana de Informática Médica desde 2007, o médico David Bates é um especialista de renome internacional na área de segurança do paciente e tecnologia de informação aplicada ao cuidado. Bates, que é diretor de inovação do Brigham and Women’s Hospital e professor do Departamento de Política e Gestão da Saúde da Harvard School of Public Health, virá ao Brasil fazer a conferência de abertura do IV Congresso Internacional CBA 2017, cujo tema central é Saúde 2.0: tecnologias emergentes e qualidade do cuidado.
Bates falará no Congresso sobre o uso da tecnologia da informação para melhorar os cuidados de saúde de diversas maneiras. “Vou me concentrar, em particular, no aumento da segurança e da qualidade com as novas tecnologias”, enfatiza. Acompanhe abaixo a entrevista exclusiva com o especialista.
- Como as tecnologias têm se mostrado úteis na melhoria da qualidade do cuidado com o paciente, da gestão de recursos na saúde e da avaliação de resultados?
Muitas tecnologias têm sido úteis para melhorar esses três fatores, especialmente o Registro Eletrônico de Saúde. Quando ele é usado, torna-se muito mais fácil medir a qualidade, a segurança e os resultados. Normalmente, as informações dos Registros podem ser transformadas em bancos de dados, que podem ser utilizados para aprimorar os cuidados de várias maneiras.
- Quais tecnologias são mais eficientes na prevenção de erros médicos graves?
A Entrada de Ordem Médica Computadorizada (EOMC) é a tecnologia mais poderosa para melhorar a segurança dos medicamentos. Outras que também são úteis incluem códigos de barras, para verificar se o fármaco certo está sendo administrado, e bombas inteligentes, que podem ajudar a aumentar a segurança das drogas intravenosas.
- Como o senhor vê a situação do Brasil em relação à implementação de tecnologias no cuidado com o paciente?
Os principais hospitais do Brasil têm alta taxa de uso da tecnologia da informação, sobretudo em estados como São Paulo e Rio de Janeiro. Outros locais, como o Amazonas, apresentam níveis mais baixos de implementação. No entanto, algumas regiões e muitos hospitais religiosos menores têm taxas ínfimas de uso de tecnologia. É importante implementar Registro Eletrônico de Saúde no país inteiro, com prioridade para a atenção primária, para que, eventualmente, se possa avaliar a qualidade da saúde no Brasil como um todo.
- Que países são referência no uso de tecnologias na saúde?
As principais referências são Dinamarca, Inglaterra, Suécia, Holanda e Nova Zelândia. Na Dinamarca, existem níveis muito elevados de implementação de Registro Eletrônico de Saúde (RES) nos cuidados primários e secundários, e a troca de informações clínicas está relativamente bem estabelecida. Na Inglaterra, há uso quase universal de RES na atenção primária e utilização crescente na atenção secundária. Existe uma iniciativa chamada Spine, que tem tido muito sucesso em termos de troca de dados. Na Suécia e na Holanda, a avaliação da qualidade é bem desenvolvida, e há bases de dados muito boas que cobrem grandes populações de pacientes. O atendimento social também é cada vez mais integrado. A Nova Zelândia é especialmente forte na implementação dos registros nos cuidados primários.
- Como professor de Harvard, como o senhor analisa o papel das universidades na formação de médicos e na criação de tecnologias para a área de saúde?
As universidades têm papel importante na avaliação da capacidade das novas tecnologias, como sistemas de computação, de melhorarem a segurança, a qualidade e a eficiência dos cuidados de saúde. As universidades também são fundamentais para a preparação de profissionais de todos os tipos, incluindo enfermeiros, farmacêuticos e médicos, para que estejam prontos para a saúde 2.0. Eu acredito que o treinamento interdisciplinar se tornará a norma.
- Como participar?
Se você tem interesse em participar dessa discussão, acesse o site http://eventos.cbacred.org.br/congresso-internacional-2017, para mais informações e inscrições.