É a primeira causa de cegueira não reversível em todo o mundo, estimando-se a existência de 80 milhões de pessoas com a doença. Por cá, serão cerca de 200.000 os que sofrem com glaucoma, um problema que leva à perda progressiva e irreversível da visão. E poderão vir a ser muitos mais, uma vez que, explica António Rodrigues Figueiredo, coordenador do Grupo Português de Glaucoma da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), “sendo uma doença cuja ocorrência aumenta com a idade e atendendo ao aumento da esperança de vida, estes números tendem a crescer significativamente”.
“O glaucoma é uma doença bastante assintomática nas fases iniciais”, refere o especialista, que acrescenta que “a perceção inicial da doença é ainda mais difícil devido à nossa própria adaptação cerebral, que vai tentando substituir as imagens em falta por ‘cópias’ das imagens próximas – como num roubo valioso, em que as peças roubadas são substituídas por cópias idênticas. Por isso chamamos ao glaucoma ‘o ladrão silencioso da visão’”. Um fenómeno que “provoca uma perceção deformada e incompleta da realidade, tornando-se bastante grave por exemplo na marcha, causando quedas (uma queixa frequente), ou na condução automóvel”.
A principal causa e fator de risco desta doença que, por cá, se estima que esteja apenas diagnosticada em 50% dos doentes, é a hipertensão ocular. O que significa que “uma tensão ocular elevada, não detetada e não controlada, vai conduzir ao aparecimento da doença”. Mas há outros fatores de risco, como a idade e a existência de familiares diretos com glaucoma.
Por ser uma doença progressiva, isto é, “que tem uma natural tendência para agravamento” e também “irreversível, ou seja, as perdas que causa não são recuperáveis, torna-se fundamental a deteção precoce. A oftalmologia possui métodos clínicos e exames complementares sofisticados que permitem que seja detetada muito antes de dar sintomas, prevenindo, graças aos tratamentos adequados, a sua progressão. E tudo deve começar pela medição da tensão ocular que, refere António Rodrigues Figueiredo, é o principal fator de risco do glaucoma “e simultaneamente o único que podemos tratar e que conduz ao controlo da doença – há inúmeros estudos e evidência que o comprovam”.
De acordo com o especialista, “existem, para os próximos anos, perspetivas de inovação no tratamento com medicamentos. No entanto, atualmente é nas técnicas cirúrgicas que se tem verificado maior progresso”. Apesar disto, por serem técnicas invasivas e mais agressivas, isso dificulta a sua aceitação pelo doente de forma atempada, “o que por vezes se revela fatal em termos evolutivos da doença. Mas as modernas técnicas microcirúrgicas, com recurso a microimplantes, são muito mais seguras e certamente o seu uso tenderá a aumentar”. Apesar de existir tratamento, não há cura. E António Rodrigues Figueiredo defende a importância de esclarecer os doentes e de combater esta ideia errada.