Quando se fala na NASA, o que de imediato vem à ideia é o espaço, a exploração a nível planetário, a descoberta de novos mundos. Mas é da NASA, mais especificamente do Jet Propulsion Laboratory (JPL), um laboratório norte-americano onde trabalham 6.200 pessoas e que, todos os anos, tem um orçamento de qualquer coisa como 2.4 mil milhões de dólares, que chegam grandes novidades na área da medicina. Foi sobre elas que falou Leon Alkalai, um dos oradores do 3º ASPIC International Congressque, nos dias 10 e 11 de maio, encheu de especialistas a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
“Há toda uma nova geração de tecnologia de visualização, de realidade aumentada, que estamos a desenvolver no JPL. E há um esforço para aplicar a tecnologia espacial ao campo médico”, referiu o especialista, numa conversa que decorreu entre Lisboa e o JPL, na Califórnia.
Leon Alkalai é um dos investigadores da NASA e o seu nome está associado a algumas das mais impressionantes missões espaciais já levadas a cabo pela mão humana. A mais recente foi há pouco mais de uma semana, quando foi lançada para o espaço a missão InSight (Interior Exploration Using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport), que vai instalar-se no planeta vermelho. “Marte será analisado como quem observa um doente e aquilo que vamos fazer é analisar o seu interior”, explicou.
Mas a ligação entre a investigação espacial e a medicina vai muito além desta analogia. A aplicação de todo o conhecimento usado para lançar missões como esta ao campo do diagnóstico e tratamento de doenças, muitas delas oncológicas, concretiza-se de outras formas. Uma dela é a microcirurgia assistida por robot. “Fomos nós que inventamos a tecnologia por detrás do Da Vinci, um braço robotizado muito usado nos blocos operatórios”, explicou.
A tecnologia na área da imagem é outra das apostas do laboratório da NASA, ‘emprestada’ à área da medicina, nomeadamente à oncologia. “Somos muito fortes no campo da tecnologia que proporciona a recolha de imagens do universo, com recurso aos infravermelhos. E esta tecnologia permite também que se visualizem as células cancerígenas, uma vez que existem diferenças no calor emitido por estas células, que pode ser detetado”, acrescentou.
O especialista referiu ainda o trabalho feito na área dos dados, que as missões realizadas pela NASA recolhem em grandes quantidades e que a tecnologia permite analisar, tecnologia essa “aplicável na ciência médica. Trabalhamos na área do diagnóstico preditivo, com base nos dados clínicos, dados socioeconómicos, tudo isto baseado na tecnologia criada para o espaço”.
Na área da esterilização, os avanços têm sido também relevantes, tanto mais que tudo o que vai para o espaço tem que ser totalmente esterilizado. Por isso, a tecnologia desenvolvida deteta todos os agentes exteriores. “Os rovers que vão para Marte não podem levar germes ou esporos para o espaço. Temos que os esterilizar, de forma a proteger os outros planetas da nossa contaminação.” Uma inovação que, segundo Leon Alkalai, poderá vir a estar disponível nos hospitais dentro de um ano. “É importante porque vai permitir aos hospitais usar os equipamentos de forma mais rápida, reduzindo o risco de infeção.”
O 3º ASPIC International Congress teve como grande objetivo “motivar as pessoas para o conhecimento”, explicou Luís Costa, presidente da Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC) e diretor do Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria.