Portugal avançou muito na gestão da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) nos últimos anos, mas ainda há muito por fazer. Estima-se que existam 800 mil pessoas em Portugal com aquela que é já a sétima principal causa de morte no nosso país[iii], mas o subdiagnóstico deverá rondar os 86%[iv]. Para inverter a tendência actual, três pilares estratégicos são fundamentais: a prevenção, através do investimento na cessação tabágica; o diagnóstico precoce, com promoção do conhecimento dos sinais de alerta e um aumento da realização de espirometrias; e a gestão integral da doença, através de medicação, educação do doente e reabilitação respiratória. Ao longo do debate, foi sublinhada a importância da terapêutica farmacológica e o seu impacto na gestão da patologia. “Acordar com falta de ar é um sentimento muito comum nos doentes de DPOC e só quem experiencia essa sensação sabe a aflição que causa. Nessas situações, o que os doentes mais desejam é um medicamento que os alivie“, comentou Isabel Saraiva, Vice-Presidente da RESPIRA.
As conclusões são do grupo de especialistas reunido na sessão “Onde estamos e para onde queremos ir na gestão da DPOC em Portugal”, organizada pela GSK, no âmbito do Dia Mundial da DPOC, 21 de Novembro. O objetivo da sessão era debater os principais desafios clínicos, sociais e económicos na gestão da patologia e as medidas necessárias para alterar o curso atual da DPOC em Portugal.
Um objetivo alinhado com o compromisso que a GSK assume na luta contra as doenças respiratórias, conforme recordado pela Diretora-Geral, Silvia Guichardo. “Há 50 anos que a GSK tem trabalhado em conjunto com os profissionas de saúde e doentes no desenvolvimento de soluções para os desafios que doenças respiratórias, como a Asma e a DPOC, apresentam. O Dia Mundial da DPOC é um momento para, novamente, recordarmos o compromisso que assumimos diariamente, de trabalhar de forma colaborativa com os doentes e com os profissionais de saúde dos cuidados primários e especializados na gestão deste problema de saúde público, que é a DPOC.”
A sessão desenvolveu-se em volta de dois temas de discussão: “O impacto socioeconómico da DPOC em Portugal” e “Sub-diagnóstico e Exacerbações: Como responder aos principais desafios da DPOC?”, com a participação de Heitor Costa, Diretor Executivo da Apifarma; João Ramires, Membro da Direção do GRESP – Grupo de Trabalho de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF); Paula Pinto, Secretária-Geral da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP); e Isabel Saraiva, Vice-Presidente da RESPIRA – Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e outras Doenças Pespiratórias Crónicas; e de José Alves, Presidente da Fundação Portuguese do Pulmão; e Paula Simão, Membro da Comissão Científica do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias da Direção-Geral de Saúde (DGS).
Segundo o Diretor Executivo da APIFARMA, tomando como referência dados de 2016, a DPOC foi responsável por cerca de cinco mil mortes em Portugal[v], tendo sido a sétima principal causa de morte prematura no nosso país[vi]. Heitor Costa sublinhou, ainda, os 28 milhões de euros associados a hospitalização e atendimento de urgência a doentes com DPOC, que representam 14% de todos os casos de hospitalização e cuidados de emergência preveníveis[vii].
Isabel Saraiva, por seu lado, destacou o “fosso existente entre as necessidades e a realidade. Deviamos ter uma rede de espirometria no país todo, o que ainda não se verifica. Devíamos ter 30% a 40% dos doentes em programas de reabilitação respiratória e estão menos de 2%.”
Como frisou Paula Pinto, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, assistimos a uma tendência positiva na evolução nos últimos cinco anos, com melhorias nos números de diagnóstico, “apesar de existirem ainda assimetrias regionais grandes. Assistimos a menos internamentos por DPOC. A prevalência está a aumentar, mas apesar de tudo estamos a diagnosticar e a tratar bem os doentes”.
O principal perigo, concordam todos, está no subdiagnóstico existente, resultado de uma mistura de factores, sumarizados por João Ramires: “a desvalorização dos sinais e sintomas por parte dos próprios doentes; a falta de tempo nas consultas nos cuidados de saúde primários para fazer as perguntas certas aos doentes; a escassez de meios humanos e técnicos especializados capacitados para fazer as espirometrias fundamentais no diagnóstico”. Isabel Saraiva soma mais um: a dificuldade de comunicação entre médicos e doentes e a distância que existe entre ambos.
O tema do subdiagnóstico foi parte integrante também do segundo painel da tarde, com José Alves a considerar que todos os fumadores deveriam fazer, por rotina, obrigatoriamente, uma espirometria. “Nas suas primeiras fases a DPOC não tem sintomas. Só há sinais de alarme quando há uma perda de função respiratória na ordem dos 30%.”
Nesta linha e quase como uma síntese de todo a discussão, Paula Simão salientou os três pilares fundamentais para contrariar a evolução negativa da DPOC: A evicção, através da cessação tabágica; o diagnóstico, através das sensibilização de doentes, médicos e um incentivo à espirometria; e o tratamento integral do doente, com ensino para a auto-gestão e reabilitação respiratória associadas aos fármacos.