A Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação (APDSI) organizou o mes passado a Conferência “Saúde e Segurança Digital”, no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. O evento dá continuidade aos bons resultados de anos anteriores nas edições da Conferência “As TIC e a Saúde no Portugal de Hoje”, sempre desenvolvido em articulação com entidades do Ministério da Saúde, entidades prestadoras de cuidados de saúde públicas e privadas e com fornecedores desoluções e tecnologias. A abertura da conferência esteve a cargo de Maria Helena Monteiro, presidente da direção da APDSI, num painel que contou com a participação de Francisco Ramos, secretário de Estado Adjunto e da Saúde e Teresa Sustelo de Freitas, presidente do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL) onde decorreu a conferência.
– Com a presente revolução digital em pleno auge a literacia para a sociedade da informação que era um tema forte no final dos anos 90 perde cada vez mais relevância ou será todo o contrário? Com a eleição desta nova direção da APDSI, haverá lugar a um corte com o passado e o início de um novo ciclo para adequar a APDSI aos novos desafios de uma sociedade em plena transformação digital?
Num mundo cada vez mais digital e com um número crescente de dispositivos móveis por pessoa, a literacia é cada vez mais fundamental para garantir que cada cidadão tem a capacidade de fazer bom uso da tecnologia e retirar dela o maior proveito, por exemplo na prevenção da sua saúde e, quando necessário, na gestão da sua doença, no seu autocuidado e na relação com os profissionais de saúde.
Sob o mote “Ousar, desafiar e inovar”, a nova direção pretende reforçar a dinâmica que a Associação tem tido ao longo dos anos, fortalecer a ligação com todos os que fizeram dela um fórum de debate útil sobre a Sociedade da Informação em Portugal e ainda articular com novos atores da Sociedade Civil debates sobre caminhos que encarem as ambiguidades e as certezas da transformação digital.
– E na área da Saúde, como se perspetiva que possa o cidadão estar no centro do sistema sem uma real e efetiva partilha de dados clínicos no conjunto do sistema nacional de saúde (SNS + privados)? O que é que está ainda pendente de fazer para que Portugal pudesse ser apontado como um caso de êxito nesta matéria?
Quer pela sua dimensão quer pela sua apetência na adoção/desenvolvimento de novas tecnologias, Portugal é uma excelente montra tecnológica para o ecossistema da saúde digital.
Nos últimos anos, Portugal tem definido o ecossistema da saúde como um todo centrado no cidadão e não apenas nos “silos” de informação centrados em unidades de saúde. E é neste sentido que se tem feito o caminho da interoperabilidade dos dados, para que a informação circule com o utente. Um exemplo disso mesmo é a Plataforma de Dados em Saúde, infelizmente ainda sem o impacto perspetivado mas que se constitui como uma abordagem muito relevante para a partilha da informação clínica.
Para que se torne efetiva a centralidade do sistema no cidadão/utente/doente, é necessária uma arquitetura de referência que defina de forma clara o papel de cada interveniente no ecossistema da saúde, na linha do exemplo referido acima.
– Para terminarmos com o tema desta conferência, o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) pode ser visto como uma barreira à inovação ou será uma oportunidade para melhorar esses processos de partilha de dados e da sua gestão? Quais foram as principais conclusões em matéria de Saúde e Segurança Digital em Portugal?
Do conjunto das participações, concluiu-se que é consensual a noção de que os sistemas de informação na saúde são fundamentais, como catalisadores da progressiva “digitalização” da saúde e de uma maior qualidade na prevenção, tratamento e acompanhamento dos doentes.
No caso concreto do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) este foi identificado ao longo de toda a conferência como uma oportunidade para, com base em relações de confiança, melhorar a qualidade dos dados e dos processos que fazem a sua gestão e desta forma avançar na partilha de dados em saúde com maior segurança e confiança entre os vários stakeholdersenvolvidos.
As TIC são os principais agentes inovadores desta transformação do setor da Saúde e devem ser também quem garante uma maior equidade e uma maior qualidade de cuidados em saúde centrados no cidadão. Conduzir à perceção deste papel alargado das TIC no setor é um dos principais objetivos desta iniciativa da APDSI.
A APDSI está fortemente empenhada em ser um agente facilitador deste conhecimento – Saúde e Segurança Digital – das suas estratégias de difusão e das transformações necessárias na sociedade em geral e em Portugal em particular.