Estudo promovido pela ONCONET SUDOE Portugal dá a conhecer as melhores práticas de farmacovigilância em Portugal, Espanha e França.
Portugal deu os primeiros passos na farmacovigilância com a criação do Infarmed em 1992 e nos últimos anos tem investido em ações e campanhas para sensibilizar, doentes e profissionais de saúde, para a importância da notificação, estratégia que levou recentemente à criação do portal RAM (Notificação de Reações Adversas).
Em Espanha a estratégia passa por facilitar a notificação de suspeitas de reações adversas por meio de um sistema de relatórios simples e acessíveis a profissionais de saúde e consumidores. Por outro lado existe uma aposta em campanhas para incentivar os consumidores a notificar suspeitas de reações adversas junto do Centro de Farmacovigilância de Navarra. A campanha “Erros Zero, desenvolvida em colaboração com a escola oficial de farmácia de Navarra, é um exemplo.
Em França a implementação do Vigibip® (aplicação de smartphone para a notificação) «é um motor inegável como uma nova forma de notificar, mas também como objeto de comunicação com os profissionais de saúde».
Quando questionados sobre a forma como é recolhida a informação, Portugal revela armazená-la num único repositório informático. No entanto, segundo o Infarmed, «existem informações de notificações que chegam às unidades por via telefónica ou carta e por isso necessitam de ser inseridas manualmente», prática essa que acaba por ser partilhada pelos três países. Como explica a responsável do Infarmed «todos os dados acabam por serprocessados e avaliadosatravés de um conjunto alargado de tecnologias específicas, sendo as mais importantes a base de dados Portal RAM, repositório de medicamento GiMed, portal europeu de RAM: EudraVigilance. No entanto, ainda que a tecnologia desempenhe um papel fundamental na farmacovigilância, continua a existir processamento manual de elevadas quantidades de dados, o que acaba por consumir elevados recursos. É espectável que os procedimentos possam melhorar através do recurso a novas tecnologias que permitam maior eficiência, eliminando as atividades redundantes e sem valor acrescentado e formas inovadoras de gerir os registos dos doentes, melhorar a extração/inserção de dados e melhorar a harmonização da informação proveniente de diferentes fontes».
Para o problema da subnotificação Espanha aponta como solução a criação de um sistema eletrónico capaz de atuar no momento da prescrição. «Temos sistemas eletrónicos integrados no histórico do cuidado primário, mas há potencial para melhorar a recolha de dados de RAMs dos sistemas hospitalares, onde as taxas de notificação têm sido baixas em comparação com as do cuidado primário. O uso de aplicações de telemóvel provavelmente permitirá que um número maior de relatórios de RAM seja recolhido. Estes são os principais procedimentos que podem ser melhorados», esclarece a responsável de Espanha. Já França aposta no envolvimento de um especialista no registo e análise dos casos.
Em Portugal embora o ciclo de melhoria contínua decorra de forma permanente com algum impacto nos processos, a verdade é que «nos últimos anos, no âmbito do Sistema Nacional de Farmacovigilância, realça-se sobretudo o desenvolvimento e implementação da nova base de dados e do novo “front-office” do Portal RAM». Já Espanha, na retrospetiva que faz dos últimos 5 anos, aponta melhorias na notificação de reações adversas suspeitas tanto por parte dos profissionais de cuidados de saúde primária como dos doentes.
Os últimos 5 anos foram também para França tempos de crescimento, o qual se pautou pelo desenvolvimento de novos métodos para analisar o risco de efeitos adversos com diferentes medicamentos ou grupos de medicamentos e utilização de análises de desproporcionalidade.
Tendo em conta as boas práticas, Portugal recomenda o investimento na sensibilização e formação dos potenciais notificadores, a monitorização mensal das notificações de RAM e a participação ativa em Grupos Europeus relacionados com a farmacovigilância.
Espanha avança com a realização de campanhas periódicas com o objetivo de disseminar a farmacovigilância entre profissionais de saúde e doentes, o fornecimento de informações aos prescritores e doentes através de boletins de informações e a melhoria das ferramentas para detetar sinais de RAM relatadas espontaneamente.
Por último, França recomenda o investimento em técnicos de investigação para recolher e promover a notificação, o uso de aplicações de telemóvel para facilitar as notificações e a especialização de um farmacologista sénior para análise de relatos de efeitos adversos de medicamentos para tratamento oncológico.
Liderado em Portugal pela Universidade de Coimbra, o projeto europeu ONCONET SUDOE – Rede Europeia de Cooperação em Oncologia, tem como principal objetivo criar uma rede de cooperação em Oncologia, colocando em contacto centros de investigação, universidades, unidades de saúde e empresas de Portugal, Espanha e França. O projeto foi cofinanciado pelo Programa Interreg Sudoe através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). A realização do Pharm+V – Conferência de Farmacovigilância em Oncologia conta ainda com o apoio do AIBILI, através da Unidade de Farmacovigilância de Coimbra, e do INOV C. A Unidade de Farmacovigilância de Coimbra é uma Unidade Regional do Sistema Nacional de Farmacovigilância apoiada pela Autoridade Nacional de Medicamentos e Produtos de Saúde (INFARMED, IP). O INOV C é um projeto estratégico cofinanciado pelo Centro 2020 através do FEDER com o objetivo de consolidar a Região Centro enquanto referência nacional na criação de produtos e serviços resultantes de atividades de Investigação & Desenvolvimento.