Os cadernos já estão a postos, os estojos completos, os livros comprados. Mas o regresso às aulas não se faz apenas de material escolar. Numa altura em que se estima que cerca de 20% das crianças em idade escolar apresentam algum tipo de deficiência de função visual, ou seja, uma em cada cinco, esta é a altura certa para a realização de um exame oftalmológico de rotina. É este o conselho de Sandra Barrão, oftalmologista da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, até porque “a falta de interesse e dificuldade de aprendizagem, por vezes incorretamente entendida como incapacidade ‘natural’ do aluno para aprender (preguiça ou pouca vontade de estudar), pode ter como fator desencadeante um problema de visão. A dificuldade em ver pode prejudicar o desenvolvimento, a adaptação e o relacionamento com os outros, no ambiente escolar”.
De acordo com a oftalmologista, “estas avaliações oftalmológicas devem ser feitas por um oftalmologista, porque não se resume apenas a quantificar visões e receber óculos, se necessário, mas a fazer uma avaliação da globalidade da situação oftalmológica da criança”.
“Os erros refrativos são as doenças dos olhos que mais afetam as crianças – miopia, hipermetropia e astigmatismo, seguindo-se o estrabismo”, refere a médica. “A deteção precoce dessas situações e o seu tratamento correto tem um papel preponderante no combate à visão baixa”, acrescenta. “Quanto mais cedo se detetar uma deficiência, maior é a probabilidade de resolução da baixa visão, já que o olho humano atinge o desenvolvimento funcional por volta dos 10 anos de idade.
É logo a partir dos três, quatro anos, que os rastreios visuais devem começar a ser feitos, ainda que, refere Sandra Barrão, “idealmente, deve ser feito o primeiro rastreio entre os 12 e os 18 meses, altura em que o oftalmologista tem possibilidade de detetar e corrigir alguns fatores ambliogénicos (causadores de baixa visão). O protocolo de avaliação está adaptado para diferentes idades, os pontos a serem objetivados de forma a obter o máximo de informações possíveis na idade em questão”.
Estar atento é fundamental, até porque “os sintomas de deficiência visual nem sempre estão presentes. Há crianças que não apresentam qualquer tipo de sinal ou marca, principalmente aquelas em que um dos olhos vê mal, por pequenos estrabismos ou por anisometropia (diferença de graduação entre os dois olhos)”.
Olhos vermelhos, lacrimejo, prurido ocular, piscar muito os olhos, franzir os olhos e a testa, ter sensibilidade à luz, dores de cabeça, queixas de que vê desfocado, mal definido ou dobrado, perda de interesse em atividades em que o esforço é visual (ler, desenhar, colorir), posicionamento estranho a ler, aproximar muito ou afastar os objetos ou o que está a ser lido, fechar ou tapar os olhos com alguma frequência, confundir letras, são sinais que podem indiciar problemas de visão.
Para além dos rastreios, há que ter atenção às condições em que a leitura é feita, sobretudo no que diz respeito à iluminação correta da leitura local, à altura da cadeira, evitar maus posicionamentos, como ler a barriga para baixo (a distância de leitura deve ser de 30 a 40 cm). “Quando estamos a fixar um monitor de computador, os olhos devem estar num nível superior (10 a 20°) do centro do mesmo; se estamos a ver televisão, a distância deve ser cinco vezes superior à largura do ecrã; a posição dos aparelhos deve ser escolhida para evitar reflexos (focos de luz, janelas, etc.) e as pausas para descanso visual são muito importantes.”