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EDITORIAL: Está o País a fazer tudo o que este País pode fazer?

Na minha atividade de consultor organizacional, quando atuo como Facilitador Profissional Certificado ou CPF (sigla em inglês) o meu principal compromisso com um grupo é o de fazer com que este possa dar o máximo de si, sem deixar nenhuma sinergia por aproveitar, sem perder nenhuma oportunidade de conseguir ser mais produtivo, em suma, conseguir espremer e tirar todo o sumo possível da laranja. A pergunta e desafio que eu lanço é “estará este grupo a fazer tudo o que pode fazer este grupo?” As pessoas no final saem exaustas da reunião mas agradecidas. Frequentemente oiço comentários como “nunca pensei que se pudesse trabalhar assim de uma forma tão criativa e produtiva”.

Mas se pegarmos neste exemplo para estabelecer um paralelismo com aquilo que se passa num País, como poderá ser o caso de Portugal, e perguntar “está o País a fazer tudo o que pode para combater esta pandemia?” Acredito que as respostas pudessem variar e certamente poderíamos ouvir por parte de alguns um rotundo ‘não’.

Não vale a pena perguntar de quem é a culpa, pois todos sabemos que esta morre solteira. Um país é uma realidade tão abstrata que o dizer que está mal ou está bem acaba por ser como a história do copo, meio cheio ou meio vazio, que varia segundo a perspectiva dos convidados ou dos donos da casa, do governo ou da oposição.

Para poder responsabilizar alguém pelo estado meio cheio ou vazio do copo temos que descer à realidade concreta. Vejamos o caso dos Municípios portugueses, por exemplo. Este mês de Junho, tive o privilégio de estar reunido com vários autarcas portugueses no âmbito do Health Data Forum do qual sou o iniciador e facilitador. Observámos após estas reuniões, vídeo transmitidas em direto, que as respostas dos municípios a esta pandemia são reconhecidas pela maioria dos seus munícipes como um copo mais que meio cheio, elogiando publicamente o trabalho que tem sido feito.

Intervenção de Carlos Carreiras (Presidente da Câmara de Cascais) para ver as restantes intervenções: aqui

Qual a fórmula de sucesso? A assumpção de vulnerabilidades, a mobilização de todos os recursos, a partilha de informação e o trabalho colaborativo. E aquilo que se consegue ao nível de uma autarquia não se poderá conseguir para todo um país? Claro que sim! Desde que seja aplicada a mesma fórmula.

Health Data Forum Ideas Lab . COVID-19: As Respostas dos Municípios – II (transmissão integral). Para ver as intervenções individuais: https://www.healthdataforum.eu/afterburner

Na minha geração e anteriores, os nossos antepassados educaram-nos para uma época em que primava a ordem e a previsibilidade, onde um governo decide e os cidadãos obedecem, e um governante que se preza não comete erros, não se engana nunca e é esperado que dê todas as respostas a tudo. Recordam-se desta narrativa?

Hoje em dia, a ação de um Estado de sucesso é mais próxima daquela que foi seguida por Portugal quando foi declarado o estado de emergência: mobilizar o todo nacional, ouvir e manter permanentemente informados os partidos da oposição, criar sinergias na liderança do Estado entre Presidência da República, Governo e Assembleia da República. Em particular para o Governo, ter consciência que o seu papel poderá ser mais o de saber ouvir para melhor executar.

Se bem se recordam, o que propiciou os excelente resultados de Portugal na prevenção do COVID-19, considerado um dos países mais seguros da Europa, foi a antecipação de grande parte da sociedade civil à data oficial do confinamento. Uma semana antes, a maioria das Universidades já estavam fechadas e muitas empresas já com os trabalhadores em casa. Quantas vidas não foram salvas graças a esta antecipação a um decreto governamental?

A partilha de informação é, por isso, um dos grandes aliados de um governo moderno e inovador. Criar parcerias com a sociedade civil e com investigadores para criar ‘dashboards’ como o COVID Insights que nos indicam que os concelhos de maior risco em Portugal são hoje – Vila Nova de Foz Côa, Amadora e Reguengos de Monsaraz e que 3 municípios da grande Lisboa estão no top 10 de maior risco é socialmente útil. A tomada de consciência destes dados pelos próprios poderá fazer diminuir esse risco com as medidas adequadas que serão mais facilmente compreendidas pelas suas populações.

Intervenção de Luís Goes Pinheiro (Presidente dos SPMS) no Health Data Forum Ideas Lab – Open Data & Public Information. Para ver as restantes intervenções: aqui

Saber aproveitar ao máximo todo o potencial da sociedade civil poderá ser a grande prioridade de um ‘Governo Facilitador’. Não existem técnicos suficientes na Região de Lisboa? Vamos aprender com as autarquias e mobilizar voluntários. Uma entrevista de rastreamento é muito demorada? Vamos lançar o desafio às empresas tecnológicas e universidades nacionais para desenhar sistemas que usem a inteligência artificial para encurtar esses tempos.

Portugal foi recentemente incluído no grupo dos países mais inovadores pela comissão Europeia (1), e considerado pela OCDE como o país no mundo com mais projetos inovadores no combate ao COVID-19, com menção para o Trace Covid dos SPMS (2). E se, ainda assim, surgem críticas à resposta da região de Lisboa e Vale do Tejo, o melhor que há a fazer é adoptar a fórmula de sucesso dos municípios: reconhecer as vulnerabilidades, mobilizar todos os recursos, incluindo a sociedade civil, as empresas, as universidades, partilhar a informação e trabalhar de modo colaborativo, nunca isoladamente.

Post Scriptum:

Li este fim de semana uma declaração no Expresso que me deixa incrédulo. Ricardo Batista Leite “o governo deixou de nos consultar”. Espero que se corrija rápidamente o tiro e se mantenha esse ‘conselho estratégico para Saúde’ com representantes dos principais partidos e das Regiões Autónomas, sem esquecer que em matéria de Saúde somos um todo nacional não apenas o continente.

(1) https://sicnoticias.pt/pais/2020-06-23-Portugal-e-o-12.-pais-mais-inovador-da-Uniao-Europeia

(2) https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/ocde-portugal-e-o-pais-com-mais-projetos-inovadores-para-combater-a-covid-19-578610

Créditos imagem: https://reportersombra.com/a-perspectiva-do-copo/

By | 2020-07-09T17:35:26+01:00 Junho 29th, 2020|Categories: EDITORIAL|Comentários fechados em EDITORIAL: Está o País a fazer tudo o que este País pode fazer?

About the Author:

Uma Trajetória de Sucesso em Colaboração, Inovação e Empreendedorismo Social --> Formação Acadêmica e Experiência Docente: Formado em Psicologia Social e das Organizações pelo ISPA, Paulo Nunes de Abreu possui um mestrado em Gestão de Informação pela Universidade de Sheffield e um doutoramento em Ciências da Gestão pela Universidade de Lancaster. Entre 1996 e 2000, foi docente no Instituto Superior de Psicologia Aplicada e na ISEG (Escola de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa). Experiência profissional como Consultor: Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, Paulo Nunes de Abreu concluiu o seu doutoramento em 2000. Desde então, acumulou vasta experiência como consultor, colaborando com o Governo Regional da Madeira (Direção Regional de Saúde) e participando em diversos projetos de consultoria e investigação com instituições de renome como o ISEG, INETI, Câmara Municipal de Évora, EDP, Ministério da Saúde de Portugal, Eureko BV, Observatório Europeu da Droga e PWC em Espanha. Especializações e Contribuições Relevantes: Certificado como facilitador profissional pela IAF (International Association of Facilitators), Paulo Nunes de Abreu teve um papel crucial na criação das Cimeiras Ibéricas de Líderes de Saúde em Espanha e foi co-fundador do Fórum do Hospital do Futuro em Portugal. Especializado em GDSS (sistemas de apoio à decisão em grupo), projetou intervenções para otimizar processos de mudança e inovação nos setores de saúde e educação. Atuação Atual e Abordagem Profissional: Desde 2021, Paulo é co-fundador da Debate Exímio Lda, uma spin-off do col.lab | collaboration laboratory Ltd., empresa sediada em Londres e editora da série de livros "Arquitetar a Colaboração", que aborda princípios, métodos e técnicas de facilitação de grupos. A sua trajetória, combinada com a experiência como residente em vários países e atualmente em Portugal, moldou uma abordagem profissional focada em colaboração, inovação e empreendedorismo social.