Mas quem pode duvidar da sabedoria implícita da natureza? Desde que a vida na terra (seguramente não apenas neste planeta) emergiu criou-se como que uma chispa que não mais se apagou. Este termo ‘anima’, que possui o significado de “fôlego vital”, “respiração” ou “sopro de vida” é característico de todos os seres vivos e é nesse mesmo limiar nanoscópico, nessa fronteira entre a vida e a não vida que a espécie humana encontrou o seu mais mortal inimigo.
Mas será que esse é o final da história? A imensa sabedoria da natureza diz-nos que nada se cria, tudo se transforma.
Desde o momento primal da criação, tudo aquilo que nos rodeia resulta de um lento e longo processo de transformação que tem permitido que uma simples nanopartícula possa evoluir até à emergência da inteligência humana e, com toda a certeza, nos conduzirá a formas de vida ainda mais evoluídas em alguns milhões de anos.
O que tem sido deveras surpreendente é que com todos os avanços que a ciência humana hoje permite, estes extraordinários e vertiginosos avanços civilizacionais nos levam, cada vez mais, de volta às origens.
Desde a primeira máquina a vapor até ao ‘machine learning‘ passaram apenas uns escassos minutos, se os 250.000 anos desde origem da nossa espécie se convertessem em 1 dia.
Mas se nos centrarmos no combate aos nossos inimigos invisíveis, desde a descoberta da penicilina até à vacina por mRNA passaram apenas 50 segundos.
Estamos preparados para o que se irá passar nos próximos 50 segundos após a invenção do primeiro organismo vivo sintético que ocorreu em 2010?
Um artigo recente de Chin An Lin do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo e colegas, observa que a COVID19 fez surgir uma crise de valores, exigindo uma revisão das prioridades da atividade médica, investimentos em pesquisa e financiamento em ciências da saúde, bem como a lacuna entre a saúde individual e coletiva:
“Além de comprometer a saúde e ameaçar a sobrevivência tanto no nível individual quanto no coletivo, essa crise levantou questões sobre nossas abordagens atuais em relação ao meio ambiente e à sustentabilidade.”
Chin An Lin et. al Clinics (Sao Paulo). 2020; 75: e2154.
Mas aquele que poderá ser o ainda maior desafio na post-pandemia será o de como envolver as comunidades mais desfavorecidas nessas decisões difíceis e como mitigar as preocupações com a discriminação e os efeitos das desigualdades estruturais.
No rescaldo de uma pandemia que provocou a maior paragem económica que há memória e efeitos socio-demográficos que vão muito para além de uma emergência de saúde pública, é tempo de parar para pensar qual o futuro que espera a humanidade?
Talvez as respostas que esta nova era espera tenham muito a ver com os valores da bioética, assente numa visão multidisciplinar, na transparência e veracidade, na inclusão de todas as perspetivas, na qual consideramos diferentes opiniões, mesmo que sejam antagónicas.
Os valores da solidariedade, em que as pessoas não são apenas obrigadas umas às outras, mas também ao todo coletivo, ao bem comum.
Finalmente, um outro valor que diz respeito à maioria das ações bioéticas é a cooperação, ou seja, como agir em conjunto com outros para o mesmo propósito.
O âmbito da bioética nunca foi tão relevante como agora e é neste contexto que o 17º Congresso Nacional da Bioética que se realiza nos próximos dias 26 e 27 de Novembro na Faculdade de Direito da Universidade do Porto será um evento a não perder.
Organizado pelas Faculdade de Medicina (FMUP) e Direito (FDUP) em parceria com a Associação Portuguesa de Bioética e o Centro de Investigação Jurídico Económica da FDUP este evento irá contar com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sessão de abertura.
Mais informações e inscrições: https://cnb.gim.med.up.pt/