Os meus mais admirados ‘colegas’ bloggers aqui no LinkedIn têm usado as mais variadas imagens para descrever a árdua tarefa que a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) tem pela frente e a mais árdua ainda da sua respetiva tutela, para encontrar os meios necessários para a levar a cabo.
Começando com o filme “Dances with wolves” até à canção “Against all odds” são vários os exemplo de criatividade lusa e somos um povo literário, sem dúvida, basta observar a poesia na escolha dos símbolos das linhas do metro em Lisboa.
Mas a escolha da minha metafórica imagem nada tem de poético, antes será algo aterradora.
Eu vejo a DE-SNS como a competente e apta tripulação de um enorme Jumbo Jet (o SNS) muito sobrelotado que perde altitude a cada dia (a sua sustentabilidade) devido a esse mesmo excesso de passageiros e a sua elevada carga (as novas doenças e as mesmas de sempre) que levam a bordo.
O crescente peso dos seus elavados custos operacionais, e da dívida pública associada, não poderá ser contrariado e os seus motores (os profissiomais de saúde) estão exauridos por um esforço hercúleo de o manter a voar há mais de 40 anos e iludir esta lenta e inexorável perda de sustentabilidade do SNS.
A nova equipa governativa, tutelada por Manuel Pizarro, roga por tempo para que o SNS possa ser transformado: “Precisamos de tempo para gerir a mudança no SNS e poder alcançar resultados.”
Mas de quanto tempo ainda dispomos realmente até que este SNS, voando há mais de 40 anos, acabe por tocar no solo sem combustível suficiente (dinheiro dos contribuintes) para a infindável viagem que tem pela frente?
Qualquer modelo de previsão económica poderá dar-nos uma informação exacta do ano em que essa rotura do SNS irá ocorrer e o avião toca no solo ou no mar como a imagem indicia.
E se esse ano for já este em que estamos a viver, acho que ninguém ficaria surpreendido.
Se tudo continuar como está, a sustentabilidade do SNS não está assegurada, antes pelo contrário, a situação só poderá ficar pior devido à degradação da nossa pirâmide demográfica e das condições de financiamento dos Estados soberanos.
Quais as mudanças que são necessárias?
Este tem sido o contributo do Think Tank – SNS de Contas Certas – e pelos resultados que foram alcançados a fórmula proposta reúne um amplo consenso. Temos razões para estar otimistas quanto ao futuro, sempre e quando o modo em que estamos agora – gestão da crise – seja bem sucedido.
Tal como a entrevista deste mês com o Bastonário da Ordem dos Médicos evidencia, temos que estar a jogar igualmente em dois tabuleiros, o do presente (gerindo a crise) e o do futuro (gestão estratégica).
Talvez tenha sido este último o ‘mea culpa’ da governação portuguesa – a falta de gestão estratégica do SNS. Mas esse esforço deveria ter começado há 20 ou mesmo 40 anos atrás para poder construir com eficácia o SNS que faz falta hoje.
Existe aqui uma responsabilidade de sucessivos governos, sim. Mas existe em última instância uma responsabilidade coletiva, do País no seu todo, que não podemos ignorar.
É por isso que hoje, já em pleno século XXI, os participantes no SNS de Contas Certas procuram inverter esta nefasta tendência do alheamento da sociedade civil dos problemas que enfrenta e acabar com o mito que apenas um governo omnipotente sejam quem pode resolver os problemas, como se este tivesse uma varinha mágica para resolver tudo.
Desenganem-se meus amigos, essa varinha mágica existe mas somos todos nós, cidadãos, utentes e profissionais do SNS em estreita colaboração com o Estado (e não apenas o governo) e o conjunto de todas as suas instituições. Essa varinha mágica chama-se união de esforços e hoje, com a vantagem adaptativa de já ter sido criada uma DE-SNS que foi justamente uma das recomendações do anterior Think Tank SNS o ‘Despertar de um Sonho‘, em Outubro de 2019.
E se a saúde for feita em casa?
No passado mês de abril, no primeiro plenário do Think Tank SNS de Contas Certas, adotamos a metodologia do World Café para promover uma participação efetiva e um diálogo construtivo entre os participantes. Divididos em pequenos grupos, os participantes tiveram a oportunidade de debater e trocar ideias sobre os temas específicos relacionados com a sustentabilidade do SNS.
Guiados por moderadores experientes, cada grupo teve a chance de explorar questões-chave, compartilhar perspectivas e propor soluções inovadoras. Esta abordagem colaborativa permitiu a construção de um conhecimento coletivo, enriquecendo as discussões e contribuindo para a identificação de ações concretas a serem implementadas. A metodologia do World Café demonstrou ser uma ferramenta valiosa para fomentar a colaboração e a co-criação, fortalecendo o processo de reflexão e geração de ideias durante a primeira reunião plenária deste Think Tank.
Dentro dos temas abordados, a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) emergiu como uma prioridade crucial. Reconhecemos que uma abordagem centrada na saúde, em vez de apenas na doença, é fundamental para alcançar a sustentabilidade do sistema. Durante as nossas discussões, enfatizamos a importância de repensar o desenho organizacional do SNS, direcionando-o para uma nova geração de cuidados de saúde centrados na promoção da saúde e no bem-estar.
Para alcançar esse objetivo, é necessário um redesenho do desenho organizacional do SNS, com uma maior ênfase na atenção primária e na integração de cuidados. Devemos fortalecer e capacitar as equipas de cuidados de saúde primários, tornando-os o ponto central do sistema, com uma abordagem multidisciplinar e um papel ativo na coordenação dos cuidados. Além disso, é essencial promover a colaboração entre diferentes níveis de cuidados e setores (público, privado e social), integrando cuidados de saúde física e mental, bem como a saúde com os determinantes sociais.
Desenhar um SNS de nova geração
O desenho organizacional de um SNS de nova geração, centrado na saúde, envolve uma mudança de paradigma. Devemos priorizar a prevenção, a promoção da saúde e a atenção primária, visando identificar e tratar os fatores de risco antes que as doenças se manifestem. Isso implica em investir em programas de promoção da saúde, educação para a saúde e cuidados preventivos, permitindo que os cidadãos adotem estilos de vida saudáveis e evitem a progressão de doenças evitáveis.
A criação da nova Secretaria de Estado para a Promoção da Saúde é um claro sinal político desta prioridade na atual equipa governativa, como referiu o Secretário de Estado da Saúde na nossa sessão de encerramento.
Ao adotar um desenho organizacional centrado na saúde, podemos obter resultados significativos. A prevenção de doenças, a promoção da saúde e a atenção primária são estratégias comprovadas para reduzir a carga sobre o sistema de saúde, direcionando recursos para cuidados preventivos e reduzindo a necessidade de intervenções hospitalares complexas. Isso não apenas melhora a saúde da população, mas também contribui para a sustentabilidade financeira do sistema, otimizando o uso dos recursos disponíveis.
Sim, é certo, precisamos de tempo para que estes resultados comecem a aparecer mas todos temos que ter claro o caminho que está a ser percorrido e o objetivo final que pretendemos alcançar: uma saúde feita em casa e que os hospitais sejam apenas para reparações.
Jogar em tempo de desconto
No caminho em direção a um SNS de nova geração centrado na saúde, devemos trabalhar em conjunto, unindo esforços entre profissionais de saúde, gestores, representantes dos cidadãos e dos pacientes. É necessário um compromisso coletivo para promover mudanças significativas no desenho organizacional, apoiado por políticas e investimentos adequados. Com base nas conclusões do 1º plenário deste Think Tank, estamos confiantes de que podemos criar um sistema de saúde sustentável, que priorize a saúde e o bem-estar dos cidadãos, promovendo a qualidade de vida e a equidade no acesso aos cuidados.
Siga-nos aqui no LinkedIn ou no Facebook ou no Twitter, em breve iremos divulgar as conclusões do nosso trabalho e anunciar o segundo plenário na cidade do Porto, no próximo dia 28 de setembro.