Dra. Lèlita Santos – Vice-Presidente da SPMI; Chefe de Serviço de Medicina Interna do CHUC; Professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
A obesidade é uma doença crónica, associada ao excesso de massa gorda, que determina um maior risco de morbilidade e mortalidade. É uma doença complexa porque resulta de múltiplas interações de fatores genéticos e ambientais.
As pessoas obesas quando consultam o seu médico, geralmente, queixam-se de dores nas articulações, falta de ar, cansaço ou, então, têm já outras situações clínicas também decorrentes da sua obesidade como, diabetes, hipertensão arterial, doença cardíaca, dislipidemia ou apneia do sono, por exemplo. Na maioria dos casos, o doente não tem consciência de que o problema principal é, afinal, a sua obesidade.
A prevalência mundial da obesidade quase triplicou entre 1975 e 2016. Em Portugal, a pré-obesidade é de 34,8% e a obesidade de 22,3%, o que representa mais de 50% da população. Portugal está no quarto lugar da lista de países da OCDE com população mais obesa.
A causa principal de obesidade é um estilo de vida desadequado, com desequilíbrio no balanço energético, aumento da ingestão de alimentos de alta densidade energética e atividade física reduzida. Assim, a melhor forma de prevenir é, desde a infância, estimular e educar para os estilos de vida saudáveis.
A DGS tem tido um papel muito importante na implementação de programas principalmente dirigidos às crianças, estimulando o conhecimento dos conceitos de alimentação saudável e exercício.
O diagnóstico de obesidade e excesso de peso, numa primeira abordagem, é feito avaliando o Índice de Massa Corporal (IMC = peso/altura2) que permite caracterizar a gravidade da doença. A OMS considera obesidade para um IMC superior ou igual (≥) a 30 Kg/m2 e excesso de peso se ≥25. Posteriormente, é fundamental conhecer a composição corporal do indivíduo, nomeadamente, a quantidade de gordura corporal e a sua distribuição que é fundamental para avaliar o grau de risco de complicações vasculares. A distribuição mais central da gordura corporal é indicadora de um maior risco.
Há necessidade urgente de reduzir a prevalência da obesidade pois isso vai reduzir a morbilidade e a mortalidade em geral e os custos, quer sociais e familiares, quer económicos, com a saúde.
Claro que é preciso não cometer exageros pois a informação disponível nem sempre é a correta. A consulta e aconselhamento por profissionais de saúde devidamente esclarecidos é o caminho para práticas saudáveis sem impor regras que conduzam a sacrifícios excessivos. O importante é que a prática de exercício e a alimentação, sejam um meio para o indivíduo ser mais feliz e participativo na sociedade.
Retomar o “velho” padrão da dieta mediterrânica, não só para a alimentação, mas, também, para o convívio à mesa e em família que esse estilo de vida implica, é a melhor opção.
Para o tratamento, nos casos mais graves, há meios farmacológicos e cirúrgicos que podem ajudar, desde que, da parte do doente exista a devida disciplina para encarar o tratamento da obesidade como de uma doença crónica que pode ter consequências muito graves para a saúde.
Em tempo de pandemia é incontornável falar da COVID-19. Um estudo recente da Universidade da Carolina do Norte, revela que a obesidade aumenta o risco de morte por COVID-19 em quase 50% e que pode tornar as vacinas contra a doença menos eficazes. Nos obesos infetados, o risco de internamento aumenta 113% e o de necessidade de cuidados intensivos, 74%. O risco de um desfecho fatal é de 48%. Realmente, tal era previsível, uma vez que nas doenças agudas, os obesos têm, habitualmente, mais complicações e pior prognóstico.
Os benefícios na saúde das pessoas obesas, conseguidos através da perda de peso, à custa de gordura corporal, principalmente se mantida a longo prazo, manifestam-se na saúde em geral, na qualidade de vida, na redução da mortalidade e na melhoria das doenças crónicas associadas.
O combate à obesidade é uma causa muito importante!
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