A iniciativa internacional Fit for Work, em Portugal representada pela plataforma PortugalApto.pt visa analisar a realidade atual do trabalho nos doentes reumáticos e contribuir para a concretização de alterações que promovam uma maior capacitação do doente reumático no mercado de trabalho. Desta forma haverá uma diminuindo do absentismo laboral e das reformas antecipadas o que, consequentemente, contribui para o aumento da produtividade do país.
Decorreu no final de 2016 uma reunião de especialistas, investigadores e associações de doentes que teve como propósito a apresentar os resultados do estudo Doenças Reumáticas: Produtividade, Empregabilidade e Saúde Social, bem como discutir o plano de iniciativas a implementar no sentido de alterar o paradigma do impacto que estas doenças têm na produtividade dos doentes.
Promovido pela Plataforma Portugalapto.pt o estudo teve como objetivo avaliar a relação direta entre as doenças, o absentismo e as reformas antecipadas, bem como identificar medidas promotoras da melhoria das condições de rentabilidade laboral numa perspetiva de defesa do doente. Desta forma permite que o doente reumático mantenha o seu trabalho, efetivando-o para que melhor se coadune com as suas limitações e capacidade individuais, motivadas em cada momento pela doença reumática.
“Esta reunião foi muito proveitosa porque nos permitiu juntar uma série de especialistas, investigadores, políticos e associações de doentes em torno da discussão sobre o impacto das doenças reumáticas na produtividade dos doentes. Com o contributo de todos conseguimos chegar até um plano de atividades”, refere Augusto Faustino, Coordenador do PortugalApto.pt.
“Para além da necessidade de compilar toda a informação existente sobre esta temática e criar um documento de integração destes dados, é também crucial mapear os estudos de intervenção já existentes com resultados nesta área que sejam relevantes para a proposta de intervenção e para a definição de impacto. Paralelamente este projeto terá de ser apresentado à Comissão Parlamentar de Trabalho e Segurança Social, aos Ministérios do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e ao Conselho Económico e Social”, adianta ainda o reumatologista. “No entanto, uma das iniciativas mais importantes é a implementação de um projeto-piloto de intervenção num determinado município. Este piloto, que irá utilizar métricas essenciais de avaliação e expectativas de custos e benefícios para melhor avaliar o impacto das doenças reumáticas na produtividade dos doentes de determinado município e o contributo dos empregadores para essa melhoria de produtividade, vai envolver empresas privadas, públicas e municipais, numa lógica de responsabilidade social. Com os resultados desta avaliação iremos criar cenários de intervenção, ajustando-os ao programa do governo, e propor incentivos e vantagens legislativas que funcionarão como recompensa às entidades empregadoras”, conclui.
O estudo em curso, que conta com uma amostra de 358 pessoas com doença reumática diagnosticada, adultos profissionalmente ativos ou reformados de uma consulta de reumatologia geral, teve como objetivo obter sugestões de alteração das condições de trabalho de profissionais com uma doença reumática e avaliar a atual situação laboral dos inquiridos. Através do questionário Work Productivity and Activity Impairment (WPAI) foram medidos os prejuízos que as doenças reumáticas provocam no trabalho e nas atividades quotidianas.
Na avaliação das sugestões de melhoria no local de trabalho destacam-se como principais resultados que no ponto organização temporal 19,3% dos inquiridos referiram a flexibilidade de horário, 14.9% as pausas alargadas para almoço e 13.6% o menor controlo do ritmo de trabalho. Em termos de carga física e ambiente 21.9% dos entrevistados referiram a melhoria da postura, 20.9% a climatização e 18.4% a alternância de posturas. No tópico apoio médico e terapêutico 19.4% dos entrevistados gostariam que a medicação fosse mais barata, 18.3% que o exercício físico regular fosse mais orientado e 15.1% que os tratamentos fossem comparticipados. Em termos legais a sugestão de baixas com maior remuneração foi a resposta mais frequente (17.2%), seguida da redução da idade da reforma (16.7%) e da isenção de taxas moderadoras (13.6%).
Relativamente à atual situação laboral entre os principais resultados destaca-se que 30% dos inquiridos tiveram pelo menos 1 dia de baixa devido à doença reumática no último ano. Destes, 5,6% estiveram de baixa entre 120 e 265 dias. Nos doentes ativos questionados, na última semana de trabalho, registou-se um absentismo laboral semanal de mais 9 horas. Por outro lado verificou-se também que quase 50% dos inquiridos trabalhou metade das horas que devia na última semana. Em termos de produtividade 87% dos inquiridos revelou que a doença reumática afetou, mesmo que ligeiramente, a sua produtividade. De destacar ainda que, entre os doentes reformados, 50% afirma que foi a doença reumática que levou à reforma antecipada. Foram ainda apurados os níveis de presenteísmo (44.6%) – percentagem de prejuízo do trabalho por doença –, de absentismo (11%) – percentagem de horas de trabalho perdidas por doença – e de perca de produtividade no trabalho (44.5%) – percentagem de prejuízo global por doença.