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EDITORIAL: Apostar na inovação em Saúde

É verdade que um Euro gasto em Saúde devolve esse mesmo Euro e muito mais ao conjunto da economia do país?

Esta frase que tem sido usada por muitos responsáveis políticos na UE é hoje um chavão empregue pelos agentes sectoriais que reinvidicam mais dinheiro para a Saúde.

Mas será realmente assim? 

Eu já usei antes esta metáfora: se compararmos um sistema de saúde a um velho Cadillac dos anos 70, desses que gastam 25 litros de gasolina a cada 100 km, quanto mais dinheiro metermos no sistema pior. Ou seja, quanto mais gastássemos em Saúde, mais estaríamos a gastar indevidamente e em excesso. Seguindo esta metáfora, o objetivo mais racional sería trocar de carro por outro com um  menor consumo ou até, no caso de um Tesla, sem sequer gastar gasolina.

É bem certo que exigir gastar mais dinheiro em saúde é politicamente agradável. O cidadão comum apreciará esse esforço na sua mais ingénua ignorância das ciências da gestão. O objectivo em Saúde não pode ser nunca indexar a despesa do orçamento geral do Estado ao PIB, sem antes alcançar primeiro um pacto de objectivos de eficiência para o conjunto do sistema e definir quais as metas a alcançar.

Poderíamos sonhar em ter um Tesla como modelo na eficiência da despesa para um Serviço Nacional de Saúde? Tudo depende da ambição dos seus intervenientes. Desde logo, no caso de Portugal, acredito que não será por falta de vontade do atual governo.

Mas como já tenho defendido, cada proposta de gasto de um Euro em Saúde deveria ser acompanhada da proposta de poupança ou ganho em saúde equivalente em dobro, como mínimo.

Senhores sindicatos, exigem receber melhores salários? Pois tratemos de conseguir que cada hora de trabalho seja mais produtiva. E, por favor, digam-me lá se no conjunto do SNS português não existem ainda muitos serviços cuja produtividade podería ser facilmente aumentada? Quantos hospitais existem por aí que ainda estão a gastar os tais 25 litros aos 100km?

Senhores cidadãos, reclamam por melhores tempos de espera nas urgências? E não poderíam também reclamar por outros pontos de atendimento alargados nos centros de saúde, fazendo com que seja a própria comunidade que colabore com as administrações hospitalares para  fomentar um uso mais racional das urgências? Os partidos de esquerda são normalmente mais eficazes neste envolvimento da cidadania, pois que canalizem esse saber-fazer para uma utilização mais racional do SNS, a bem de todos.

Senhores fornecedores do SNS, querem as contas pagas a tempo e horas? Pois ajudem a combater o consumo irracional e colaborem ativamente para assegurar a máxima eficiência no uso dos vossos produtos. Quanto vale a diminuição de dias de estância hospitalar por emprego de melhor tecnologia? Mas duplicar as compras de produtos ou equipamentos caros que depois não chegam a ser usados, é quase um crime.

Acabo com uma nota de otimismo e esperança. Para além de uma atitude construtiva, existem duas outras importantes ferramentas para a melhoria da eficiência de um Sistema de Saúde: a inovação e uma colaboração mais eficaz entre todos os seus intervenientes.

No que se refere à inovação em saúde, registei com agrado o lançamento em Portugal de uma nova empresa – a Glintt Inov – que assenta numa lógica colaborativa, aberta a todos os atores e empreendedores sectoriais que queiram unir, incubar, internacionalizar e fazer crescer as suas ideias nesta plataforma recém-criada pela Glintt,  a empresa tecnológica do grupo ANF.

A pujança e a sustentabilidade do SNS português dependerá cada vez mais também do envolvimento e de um forte contributo da sociedade civil a todos os níveis. É bom ver que no âmbito das tecnologias e da transformação digital existe hoje um convite a uma união de esforços privado-privado e, porque não, público-privado.

By | 2018-10-12T17:18:54+01:00 Outubro 5th, 2018|Categories: EDITORIAL|Comentários fechados em EDITORIAL: Apostar na inovação em Saúde

About the Author:

Uma Trajetória de Sucesso em Colaboração, Inovação e Empreendedorismo Social --> Formação Acadêmica e Experiência Docente: Formado em Psicologia Social e das Organizações pelo ISPA, Paulo Nunes de Abreu possui um mestrado em Gestão de Informação pela Universidade de Sheffield e um doutoramento em Ciências da Gestão pela Universidade de Lancaster. Entre 1996 e 2000, foi docente no Instituto Superior de Psicologia Aplicada e na ISEG (Escola de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa). Experiência profissional como Consultor: Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, Paulo Nunes de Abreu concluiu o seu doutoramento em 2000. Desde então, acumulou vasta experiência como consultor, colaborando com o Governo Regional da Madeira (Direção Regional de Saúde) e participando em diversos projetos de consultoria e investigação com instituições de renome como o ISEG, INETI, Câmara Municipal de Évora, EDP, Ministério da Saúde de Portugal, Eureko BV, Observatório Europeu da Droga e PWC em Espanha. Especializações e Contribuições Relevantes: Certificado como facilitador profissional pela IAF (International Association of Facilitators), Paulo Nunes de Abreu teve um papel crucial na criação das Cimeiras Ibéricas de Líderes de Saúde em Espanha e foi co-fundador do Fórum do Hospital do Futuro em Portugal. Especializado em GDSS (sistemas de apoio à decisão em grupo), projetou intervenções para otimizar processos de mudança e inovação nos setores de saúde e educação. Atuação Atual e Abordagem Profissional: Desde 2021, Paulo é co-fundador da Debate Exímio Lda, uma spin-off do col.lab | collaboration laboratory Ltd., empresa sediada em Londres e editora da série de livros "Arquitetar a Colaboração", que aborda princípios, métodos e técnicas de facilitação de grupos. A sua trajetória, combinada com a experiência como residente em vários países e atualmente em Portugal, moldou uma abordagem profissional focada em colaboração, inovação e empreendedorismo social.