You are here:--EDITORIAL: Quanto pior, melhor?

EDITORIAL: Quanto pior, melhor?

Na luta contra a covid19 o nosso maior inimigo não é o SARS-CoV-2

Terei de começar este meu editorial com um voto de sentido pesar a todas as pessoas que me estão a ler na lusofonia e que já perderam algum ser querido nesta pandemia. A minha máxima empatia para aqueles que possam ter familiares em situação dramática sem conseguir admissão no seu hospital ou, uma vez internados, sem poderem receber os tratamentos que poderiam ter se não houvesse esta avalanche.

Uma segunda palavra para todos os profissionais de saúde sem exceção, sector público, privado e social que nesta altura, imbuídos de um enorme sentido de missão, dão tudo o que podem e não podem para que os seus pacientes tenham as melhores chances de vencer o combate que travam contra o SARS-2-covid e as suas múltiplas variantes.

Trata-se de uma luta sem trégua e à escala mundial contra um novo coronavírus de contágio humano que um mundo incauto nunca pensou pudesse chegar onde chegou.

A vantagem de viver entre Portugal e Espanha é que posso testemunhar que os mesmos vídeos ‘fake news‘ nas redes sociais se replicam, tal como vírus. Circularam pelo WhatsApp vídeos pseudo-anedóticos com as primeiras declarações das autoridades de saúde em Portugal que minimizavam o alcance do contágio deste vírus entre nós quando a epidemia já eclodia na China. Mas estas mesmas declarações nada alarmistas eram igualmente feitas, nas mesmas datas, pelos responsáveis em Espanha e quase seguramente também em Itália, no Brasil, por todo o mundo.

Ninguém estava realmente a contar com a magnitude de umas consequências tão implacáveis, exceto talvez alguns países asiáticos como a Coreia e a própria China onde outras variantes SARS já tinham feito as suas mortíferas aparições com anterioridade.

Não me irei deter uma virgula na busca do “porque chegamos a este estado”, nem em Portugal, nem no Brasil, Angola, Cabo Verde ou em Espanha, onde sei que também tenho leitores.

Compreendo que muitos analistas vão à jugular e pressionam para que se identifiquem os responsáveis por este descontrole em contágios. Vi há dias num programa de televisão em Portugal as insistentes perguntas, “mas onde é que errou? o que é que falhou?” dirigidas a um estoico e corajoso Primeiro-Ministro.

Mas se houver uma falha que possamos apontar seria ao próprio Estado no seu conjunto (ou seja todos nós) e não apenas ao Governo, por não sermos capazes de aprender mais rapidamente com os erros cometidos.

Na luta contra a COVID19 o nosso maior inimigo não é o vírus, é a incapacidade para nos organizarmos melhor e poder antecipar as medidas necessárias.

Existem hoje processos de facilitação de reuniões sobejamente conhecidos e testados para que profissionais experientes possam fazer emergir a inteligência colectiva e a geração de consensos onde são mais necessários que nunca.

Apenas posso esperar que destas circunstâncias que não poderiam ser piores – Portugal é hoje o 3º país do mundo com mais contágios por milhão de habitantes a par com Israel – todos possamos emergir mais fortes.

E assim será, estou certo, em Portugal, após uma esmagadora vitória à primeira volta de um Presidente da Républica que declarou como sua máxima prioridade neste mandato a luta contra a COVID19.

Cimeira das Regiões de Saúde

No entanto, se é tempo para não baixar os braços, é também importante manter vivo um espaço onde possa existir o diálogo, a reflexão e a partilha de experiências entre as diferentes regiões de saúde na busca de respostas mais eficazes.

Mas se tal como na República Checa ou nos EUA (1º e 2º país do mundo em contágios por milhão de habitantes), também em Portugal sou consciente que estamos a enfrentar umas das provas mais duras que o SNS alguma vez tenha tido desde a sua criação.

Este é o propósito da Cimeira das Regiões de SaúdeMadeira Health Regions Summit que voltará a reunir em Março, ainda virtualmente, numa iniciativa conjunta entre a Secretaria Regional de Saúde e Proteção Civil da Madeira e o Fórum Hospital do Futuro também no Facebook.

Na passada 5a feira, dia 28 de Janeiro decorreu uma mesa redonda “COVID2019 em 2021, Balanço e Dia Seguinte” com a participação de vários ex-Ministros da Saúde e presidida pelo Dr Pedro Ramos, Secretário Regional de Saúde e Proteção Civil da Madeira.

Trata-se de um ciclo de pré-eventos preparatórios desta Cimeira que esperamos nos possam brindar o melhor enquadramento possível para as questões-chave que devem ser abordadas no próximo mês de Março.

Próxima edição no dia 28 de Fevereiro, com transmissão em direto no Facebook (inscrições)

As boas notícias

O próximo grande reto, para o qual já devemos estar todos a trabalhar, será o de acelerar o mais possível a recuperação económica e, para isso, contar com um sector da saúde mais ágil e eficaz é primordial.

A inovação e as novas terapias personalizadas, a transformação digital e os dados em saúde, os novos modelos de gestão baseados em valor, serão os grandes impulsionadores deste passo de gigante que terá que ser dado por todos nós, estamos prontos para a mudança?

O Digital Health Portugal, assume-se como uma plataforma cívica (um conceito que está a meio caminho entre uma simples rede e uma comunidade) para impulsionar um vibrante ecossistema de saúde digital em Portugal, potenciando a eficiência e eficácia da prevenção da doença e, por consequência, o crescimento das empresas portuguesas num mercado que é cada vez mais global.

Apesar de alguns recuos protecionistas, todos os países já constataram que o comércio global é fundamental não apenas para a recuperação económica de todos mas para o fornecimento de vacinas e meios de diagnóstico mais acessíveis (ver paper da WTO COVID-19 and beyond: Trade and health). 

Saúdo por isso como uma excelente notícia a possibilidade de se fabricarem na UE as vacinas Sputnik 5 como forma de acelerar o calendário global de vacinação. 

Próximo Meetup

O Digital Health Portugal,  irá organizar no próximo dia 18/02 às 11:30 do Brasil, 14:30 de Portugal o seu primeiro Meetup deste ano, cuja agenda provisória e as inscrições podem ser realizadas aqui.

Crédito da imagem: YouTube Ships In Horrible Storms Real Video Compilation

Citação do discurso da Presidente von der Leyen na Plenária do Parlamento Europeu sobre a resposta coordenada europeia ao surto de COVID-19.

By | 2021-02-05T10:18:44+01:00 Fevereiro 2nd, 2021|Categories: EDITORIAL|Comentários fechados em EDITORIAL: Quanto pior, melhor?

About the Author:

Uma Trajetória de Sucesso em Colaboração, Inovação e Empreendedorismo Social --> Formação Acadêmica e Experiência Docente: Formado em Psicologia Social e das Organizações pelo ISPA, Paulo Nunes de Abreu possui um mestrado em Gestão de Informação pela Universidade de Sheffield e um doutoramento em Ciências da Gestão pela Universidade de Lancaster. Entre 1996 e 2000, foi docente no Instituto Superior de Psicologia Aplicada e na ISEG (Escola de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa). Experiência profissional como Consultor: Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, Paulo Nunes de Abreu concluiu o seu doutoramento em 2000. Desde então, acumulou vasta experiência como consultor, colaborando com o Governo Regional da Madeira (Direção Regional de Saúde) e participando em diversos projetos de consultoria e investigação com instituições de renome como o ISEG, INETI, Câmara Municipal de Évora, EDP, Ministério da Saúde de Portugal, Eureko BV, Observatório Europeu da Droga e PWC em Espanha. Especializações e Contribuições Relevantes: Certificado como facilitador profissional pela IAF (International Association of Facilitators), Paulo Nunes de Abreu teve um papel crucial na criação das Cimeiras Ibéricas de Líderes de Saúde em Espanha e foi co-fundador do Fórum do Hospital do Futuro em Portugal. Especializado em GDSS (sistemas de apoio à decisão em grupo), projetou intervenções para otimizar processos de mudança e inovação nos setores de saúde e educação. Atuação Atual e Abordagem Profissional: Desde 2021, Paulo é co-fundador da Debate Exímio Lda, uma spin-off do col.lab | collaboration laboratory Ltd., empresa sediada em Londres e editora da série de livros "Arquitetar a Colaboração", que aborda princípios, métodos e técnicas de facilitação de grupos. A sua trajetória, combinada com a experiência como residente em vários países e atualmente em Portugal, moldou uma abordagem profissional focada em colaboração, inovação e empreendedorismo social.