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EDITORIAL: O Serviço Nacional de Saúde vale zero

Este foi o comentário que li outro dia na nossa página no FaceBook.

“O serviço nacional de saúde é um caos e vale zero.”

E estou seguro que desabafos como este se podem ouvir a respeito de qualquer serviço nacional de saúde, desde o NHS inglês até ao SUS no Brasil.

O prémio nobel da economia – Daniel Kahneman – escreveu um livro ‘pensar rápido, pensar devagar’ que explica bem este tipo de avaliações primárias. Elas são originadas pelo que este autor designa como pensamento tipo 1.

O SNS nem é um caos, nem vale zero, toda a gente sabe. Mas estas apreciações primárias que apelam mais à emoção que à razão, são características do pensamento clubístico que domina as acesas discussões entre adeptos de equipas de futebol que são rivais. Mas que rivalidade pode justificar afirmações tão contundentes e difamatórias de um serviço público que é pelas mais variadas razões objetivas de um reconhecido valor económico e social para o país?

Aqui estão alguns dados sobre o SNS em Portugal:

   

Fonte: https://www.sns.gov.pt/

Quando vemos cartazes afixados nas ruas de Lisboa com frases como “O SNS não está a venda”  ou “A saúde é um direito, não é um negócio” podemos compreender que estão a levar para o seio do SNS uma quase eterna rivalidade entre forças políticas que se supõe que deveriam estar unidas no suporte ao atual governo em Portugal.

Como em qualquer discussão futebolística é impossível que clubes rivais algum dia se ponham de acordo, pois isso seria a negação do propósito da própria existência de um clube que é a de fomentar adeptos e a rivalidade clubística é um ingrediente imprescindível para esse objetivo existencial.

Do mesmo modo com os partidos politicos, fomentar a rivalidade com outros partidos é um objetivo existencial para chegar ao poder. Mas o que foi verdade até ao século passado, poderá não ser mais válido hoje.

O que se passaria se o SNS fosse ele próprio o nosso clube e todos vestíssemos a sua camiseta? Os nossos rivais passam a ser todas aquelas forças políticas ou sindicais que o querem denegrir com ataques perpetrados com o objetivo de distorsionar os factos, confundir os cidadãos e desmoralizar os seus profissionais e utilizadores.

Por isso faço aqui este apelo, a todos os profissionais e utilizadores do SNS que não tolerem quaisquer ataques pejorativos como “vale zero”. Está claro que nem tudo são rosas num serviço nacional de saúde e que tal como existem imensas áreas de satisfação, existem igualmente muitas áreas de insatisfação que merecem a nossa atenção. Todas as reclamações e sugestões de melhoria do SNS devem ser ouvidas com a máxima atenção pelos seus dirigentes e responsáveis.

Para além dos utentes, é crucial saber ouvir os próprios profissionais de saúde, que são quem mais poderá aportar para a obtenção da excelência na prestação de cuidados de saúde.  Essa é a contribuição mais importante que a gestão de topo do atual ministério da saúde de Portugal pode dar. Ao colocar a fasquia do desempenho do SNS na área da excelencia deveria impulsar por parte de todos os membros e utilizadores mais ‘amor à camisola’ e mais determinação para construir e não deixar nunca denegrir um Serviço Nacional de Saúde.

By | 2018-06-09T13:56:37+01:00 Junho 5th, 2018|Categories: EDITORIAL|Comentários fechados em EDITORIAL: O Serviço Nacional de Saúde vale zero

About the Author:

Uma Trajetória de Sucesso em Colaboração, Inovação e Empreendedorismo Social --> Formação Acadêmica e Experiência Docente: Formado em Psicologia Social e das Organizações pelo ISPA, Paulo Nunes de Abreu possui um mestrado em Gestão de Informação pela Universidade de Sheffield e um doutoramento em Ciências da Gestão pela Universidade de Lancaster. Entre 1996 e 2000, foi docente no Instituto Superior de Psicologia Aplicada e na ISEG (Escola de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa). Experiência profissional como Consultor: Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, Paulo Nunes de Abreu concluiu o seu doutoramento em 2000. Desde então, acumulou vasta experiência como consultor, colaborando com o Governo Regional da Madeira (Direção Regional de Saúde) e participando em diversos projetos de consultoria e investigação com instituições de renome como o ISEG, INETI, Câmara Municipal de Évora, EDP, Ministério da Saúde de Portugal, Eureko BV, Observatório Europeu da Droga e PWC em Espanha. Especializações e Contribuições Relevantes: Certificado como facilitador profissional pela IAF (International Association of Facilitators), Paulo Nunes de Abreu teve um papel crucial na criação das Cimeiras Ibéricas de Líderes de Saúde em Espanha e foi co-fundador do Fórum do Hospital do Futuro em Portugal. Especializado em GDSS (sistemas de apoio à decisão em grupo), projetou intervenções para otimizar processos de mudança e inovação nos setores de saúde e educação. Atuação Atual e Abordagem Profissional: Desde 2021, Paulo é co-fundador da Debate Exímio Lda, uma spin-off do col.lab | collaboration laboratory Ltd., empresa sediada em Londres e editora da série de livros "Arquitetar a Colaboração", que aborda princípios, métodos e técnicas de facilitação de grupos. A sua trajetória, combinada com a experiência como residente em vários países e atualmente em Portugal, moldou uma abordagem profissional focada em colaboração, inovação e empreendedorismo social.