- A compra da Siemens Healthcare por parte da CERNER era algo que se prevía pudesse acontecer ou é um fruto de uma decisão táctica da Siemens para se desfazer de áreas de negócio onde vê que não consegue competir com êxito?
Num mundo global as empresas para terem sucesso precisam de ser nº 1 ou nº 2 na respetiva área de negócio. A velocidade com que a inovação tem de ser incorporada, a par do cumprimento com normas regulamentares locais e europeias obriga a um investimento significativo em investigação e desenvolvimento. A Cerner investe todos os anos mais de 650 milhões de dólares, sendo o líder mundial em consultoria e sistemas de informação em saúde.
- Quais as grandes tendências de mercado que podem estar na origem ou justificar esta decisão?
Acredito que à semelhança do que se assistiu há uns anos na área dos medical devices, haverá uma natural concentração da oferta de soluções num número reduzido de players globais. A capacidade de ter uma oferta completa, com escala para responder aos requisitos e normas específicas de estarmos a lidar com dados de saúde e com a dimensão para dar resposta aos novos desafios em saúde, obriga necessariamente a uma presença global, na geração e partilha de conhecimento a partir de uma base de milhares de prestadores de cuidados, e num forte investimento em novas patentes e desenvolvimentos que coloquem ao dispor de todos nós as vantagens deste novo mundo tecnológico em permanente evolução.
- E quais as consequências para os clientes de ambas empresas em Portugal?
Tratando-se de um Asset Deal a Cerner assumiu todas as responsabilidades que a Siemens tinha para com os seus clientes e todos os colaboradores que davam suporte e evolução às soluções existentes. Acredito que a transição foi bastante suave, e que só existe espaço para que os nossos clientes fiquem cada vez mais satisfeitos com esta mudança.
- Verificamos que o CEO da Siemens Health Services – John Glasser – transita para a Cerner como SVP e membro do comité executivo da CERNER, o mesmos se passou consigo hoje como máximo responsável da CERNER em Portugal, podemos falar quase em fusão amigável entre ambas as entidades?
Acredito que não é comum, mas claramente há um reconhecimento do contributo que podemos dar para o sucesso da Cerner. Acho que esteve sempre nos objetivos de ambas as empresas fortalecer a colaboração potenciando o sistema utilizador-máquina, através da coleta de dados, integração em aplicações clínicas e disponibilização de ferramentas de otimização dos resultados na prestação de cuidados.
- Desde as soluções para Saúde publica até ás tecnologias mais tradicionais em Saúde, é impressionante ver a vossa oferta integrada. Presentemente, fará mais sentido perguntar o que é que a CERNER não oferece no sector da Saúde? Quais serão as prioridades da CERNER em Portugal?
A Cerner dispõe de uma oferta muito completa que permite endereçar os desafios dos prestadores de cuidados de saúde, seja ao nível dos cuidados continuados, cuidados ambulatórios e agudos, incluindo diferentes especialidades como por exemplo, Oncologia ou Cardiologia. Vamos para além dos “muros” das unidades de saúde, com oferta de uma plataforma que suporta um modelo de cuidados e bem estar integrado focado no individuo e na população. As nossas prioridades passam por: continuar a dar um suporte de excelência aos nossos clientes, fomentando mais valias pela intersecção das plataformas existentes com o novo mundo de soluções Cerner; promover soluções departamentais, escaláveis, ou integradas baseadas nas plataformas Soarian e Millennium, e de forma agnóstica ao processo clínico trazer a internet das coisas para a saúde oferecendo uma plataforma integradora de todo o tipo de medical devices (ex: cama hospitalar, termómetro, monitor de sinais, sensores, etc); e promover a inteligência dos sistemas suportada em motor nativo de regras e de workflows e analítica avançada, a mobilidade das aplicações, e modelos de gestão da saúde das populações na Cloud.
- Há uns anos atrás, o Ministério da Saúde enquanto entidade compradora tinha uma posição algo imparcial com relação às empresas multinacionais, favorecendo nas compras as empresas nacionais. Essa realidade ainda hoje se verifica ou algo está a mudar no modo como o Estado português gestiona a suas compras no sector da Saúde?
A missão da Cerner é contribuir para a melhoria sistémica da prestação de cuidados de saúde e da saúde das populações. É com esse desígnio que acredito que é uma oportunidade para todos nós, portugueses, a sinergia que se pode promover entre entidades públicas e multinacionais líderes de mercado como a Cerner. Em Portugal temos casos de sucesso de parceria com hospitais públicos e privados que queremos fortalecer.