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EDITORIAL: “Game Over” para a COVID19?

Em Madrid, onde resido, e na grande maioria das outras comunidades autónomas do Estado a quadra natalícia terminou esta semana com o Dia de Reis o qual em Portugal e no seu culturalmente irmanado Brasil, deixou de ser feriado oficial, coisa que não sucede em Espanha onde é o culminar de uma longa quadra natalícia que se estende até à primeira semana de Janeiro.

Não poderíamos receber um 2º melhor presente de Reis que a confirmação da eleição de um novo presidente nos EUA, num já esperado último episódio de uma série surreal que torna cada vez mais difícil à Netflix conseguir fazer melhor.

Quando o meu filho mais novo viu estas imagem na televisão comentou jucosamente: “mas como se chama esta nova série?” Fonte: https://www.financialexpress.com/world-news/trump-supporters-storm-capitol-clash-with-police-biden-says-unprecedented-assault-on-democracy/2165964/

O grande consolo (que todos precisamos)

Mas para a humanidade inteira o mais ansiado presente de Natal foi a chegada das primeiras vacinas contra o SARS-Cov2 e as suas novas variantes. Bem a tempo para dar-nos a todos uma réstia de esperança no Natal, mas apenas isso. Como bem disse Francisco Ramos coordenador da Task Force criada pelo 22º Governo para a vacinação em Portugal: nada irá mudar em relação a tudo aquilo que precisa ser feito para continuar a travar esta pandemia. E as novas restrições vieram dar-lhe razão.

Pensar que com a vacinação da população (que irá demorar até ter efeitos palpáveis na economia) se poderá voltar à normalidade de antes e tomar decisões em relação ao futuro baseadas num “game over” para este coronavírus tal como foi para todos os anteriores é um erro que pode sair caro.

Fonte: https://internationalbanker.com/finance/what-a-covid-19-vaccine-means-for-the-global-economic-recovery/

Klaus Schwab, o fundador do Fórum Econômico Mundial, é coautor de um livro recente com Thierry Malleret, cujo título aponta a mensagem principal: COVID19 The Great Reset, uma leitura obrigatória mas com sentido crítico, tal como nos alerta este artigo da BBC na secção ‘reality check‘.

Estes hashtags que se tornam facilmente virais, fazem emergir as vozes dos que pensam que existe uma conspiração de líderes globais que está a usar a pandemia para introduzir uma série de políticas socialistas e ambientais prejudiciais ao mundo dos negócios. Mas todos sabemos como é que acabam as crenças em falsas teorias da conspiração, certo Mr. Trump?

É assustador perceber que após toda a consternação e sofrimento que esta situação pode causar pessoalmente a cada um de nós, às nossas empresas, às nossas comunidades ou até mesmo ao mundo inteiro, para conseguir dar a volta a humanidade terá que sair desta perigosa ‘zona de conforto’ onde já se encontrava desde há muito sem se dar conta.

E isso é, paradoxalmente, o que nos poderá consolar. A Covid19 veio criar uma grande oportunidade para atacar de vez o verdadeiro grande problema da humanidade – a sustentabilidade de uma população crescente de mais 7 Bilhões de almas consumidoras de recursos num planeta que diz cada dia, já basta!

Mais que um novo rumo, são necessários novos métodos

O recente ‘assalto à capital dos EUA’ é apenas mais uma prova da necessidade de um novo propósito público, sobre o qual já escrevi anteriormente.

Depois da COVID19, nenhum país ou região poderá ter sucesso sem um bom governo e nenhum governo poderá ter sucesso a menos que consiga unir TODA a sociedade em um único propósito, uma rápida recuperação económica tendo por base a sustentabilidade do planeta e sem deixar ninguém ficar para trás. A partir de agora, todos devem ser incluídos nas decisões a tomar, através de uma liderança participativa em que todas as vozes são escutadas, empregando novos métodos como os da facilitação de grupos.

Exemplo de aplicação de um método de facilitação de grupos: https://en.wikipedia.org/wiki/Open_Space_Technology

Na esteira desta pandemia vai ficar a maior crise económica que há memória e atrasos colossais na produção dos serviços de saúde em todo o mundo. Para além das mortes por COVID19, haverá um retrocesso brutal nas condições de saúde da população mundial que será difícil de quantificar.

Serão necessários esforços hercúleos para recuperar os níveis de prestação anteriores à pandemia. No caso de Portugal, num artigo publicado na revista Gestão Hospitalar, Manuel Delgado, Hugo Lopes, João Completo e Francisco do Carmo, da IASIST Portugal, traçam um quadro objetivo da redução de produção ocorrida no SNS como consequência desta pandemia.

Pensar que os Estados por si sós serão capazes de dar resposta é agarrar-nos a uma falsa ilusão que se já era percetível antes, agora é mais evidente que nunca. Grandes males requerem grandes remédios e a escala de grandeza desta pandemia é a do planeta no seu conjunto. Seja qual for o âmbito de atuação para o seu combate (local, comunitário, municipal, regional, nacional ou mesmo global) a fórmula de sucesso envolve um trabalho irmanado entre os diferentes níveis de governo e o conjunto da sociedade.

Mais que um rumo, são necessários novos métodos assentes no fomento do diálogo, no trabalho em equipe e num permanente sentido de autocrítica construtiva a partir de uma avaliação regular de resultados baseada em dados, não em opiniões.

Agradecimentos

Ao longo deste ano que findou, fui afetado como todos por esta pandemia, mas através do col.lab o spinoff que resultou dos meus livros, procurei criar no âmbito do Fórum Hospital do Futuro que dele emana, as iniciativas que mais possam contribuir para este começar de novo, com uma seleção natural das práticas que irão possibilitar um SNS melhor, um país melhor e, no limite, um mundo melhor.

Health Data Forum, um evento de referência global para fazer da cidade do Porto no próximo ano uma versão do Web Summit mas para os dados em saúde.

O Digital Health Portugal, uma plataforma cívica criada para apoiar o desenvolvimento da saúde digital e o crescimento das start-ups e empresas dedicadas a este sub-sector da saúde.

A Cimeira das Regiões de Saúde, um espaço para a partilha de experiências que visa reforçar a importância do papel que as Regiões de Saúde podem desempenhar. Ver aqui o repositório de ideas geradas durante os debates e o relatório Retrospectiva de Atuação COVID19 gerado pela plataforma GroupMap™.

A todas estas iniciativas, preside um fim comum: contribuir para o fortalecimento dos laços de colaboração inter-organizacional em saúde, incluindo a participação ativa da sociedade civil, na procura contínua de ganhos em saúde.

O meu ‘presente de Reis’ para todas as pessoas, empresas e instituições públicas e associativas que tornam possivel o meu trabalho e os resultados alcançados, será ter a satisfação de saber que, entre todos, estamos a contribuir para um futuro melhor!

By | 2021-01-24T15:37:21+01:00 Janeiro 8th, 2021|Categories: EDITORIAL|Comentários fechados em EDITORIAL: “Game Over” para a COVID19?

About the Author:

Uma Trajetória de Sucesso em Colaboração, Inovação e Empreendedorismo Social --> Formação Acadêmica e Experiência Docente: Formado em Psicologia Social e das Organizações pelo ISPA, Paulo Nunes de Abreu possui um mestrado em Gestão de Informação pela Universidade de Sheffield e um doutoramento em Ciências da Gestão pela Universidade de Lancaster. Entre 1996 e 2000, foi docente no Instituto Superior de Psicologia Aplicada e na ISEG (Escola de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa). Experiência profissional como Consultor: Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, Paulo Nunes de Abreu concluiu o seu doutoramento em 2000. Desde então, acumulou vasta experiência como consultor, colaborando com o Governo Regional da Madeira (Direção Regional de Saúde) e participando em diversos projetos de consultoria e investigação com instituições de renome como o ISEG, INETI, Câmara Municipal de Évora, EDP, Ministério da Saúde de Portugal, Eureko BV, Observatório Europeu da Droga e PWC em Espanha. Especializações e Contribuições Relevantes: Certificado como facilitador profissional pela IAF (International Association of Facilitators), Paulo Nunes de Abreu teve um papel crucial na criação das Cimeiras Ibéricas de Líderes de Saúde em Espanha e foi co-fundador do Fórum do Hospital do Futuro em Portugal. Especializado em GDSS (sistemas de apoio à decisão em grupo), projetou intervenções para otimizar processos de mudança e inovação nos setores de saúde e educação. Atuação Atual e Abordagem Profissional: Desde 2021, Paulo é co-fundador da Debate Exímio Lda, uma spin-off do col.lab | collaboration laboratory Ltd., empresa sediada em Londres e editora da série de livros "Arquitetar a Colaboração", que aborda princípios, métodos e técnicas de facilitação de grupos. A sua trajetória, combinada com a experiência como residente em vários países e atualmente em Portugal, moldou uma abordagem profissional focada em colaboração, inovação e empreendedorismo social.