A proteção única que o leite materno proporciona aos bebés nasce da interação dos seus componentes, entre eles e com o recém-nascido. As moléculas que compõem o leite materno – muitas ainda por descobrir -, não trabalham de forma individual, mas em conjunto para criar relações simbióticas que respondam às necessidades de cada criança. Este sistema de interações é o responsável pela capacidade do leite materno em reforçar o sistema imunitário do bebé e impedir as infeções. Potenciar a investigação dos componentes do leite materno no seu conjunto explicaria o mecanismo por detrás destes benefícios para os recém-nascidos.
Nas relações simbióticas entre os diferentes componentes do leite materno também há que ter em conta a interação entre a mãe e o recém-nascido, ou seja, como atuam os componentes do leite materno no organismo do bebé. Face a um cenário tão variável, onde cada aleitamento é único, os especialistas reclamam uma maior investigação para definir estas complexas interações e identificar como actuam os componentes imunológicos do leite materno. Assim como esclarecer que fatores ambientais podem afetar o correto desenvolvimento do sistema de defesa dos bebés. Os investigadores concordam que ainda lhes falta um longo caminho para descobrir o potencial do aleitamento materno.
Um dos ramos de investigação vigente com mais intensidade dentro do estudo do sistema imunitário do bebé é aquele que trata de identificar o papel do leite materno na proteção face às alergias. Até ao momento, conhece-se o potencial do leite materno para prevenir as alergias, mas não o seu mecanismo de ação. Uma vez que as doenças alérgicas são as patologias crónicas mais comuns entre as crianças de diversos países, Daniel Munblit, Professor Associado da Universidade Estatal de Medicina de Moscovo Sechenov (Rússia), insistiu, durante o simpósio, na importância de ampliar a investigação neste campo, estudando a interrelação entre os diferentes componentes do leite materno implicados.
Segundo o especialista, o objetivo é estudar um grande conjunto de biomarcadores em vez de pequenos grupos ou cada um de forma independente. Devido à alta concentração de possíveis moléculas com actividade imunológica no leite materno, o estudo de um limitado leque de componentes daria lugar a resultados contraditórios ou erróneos. “Os componentes do leite materno estabelecem continuamente relações simbióticas, trabalhando juntos, ou antagónicas, anulando os efeitos do contrário. São estas intrincadas interações, que estamos perto de descobrir, as que desempenham um papel chave na capacidade do aleitamento em proteger os recém-nascidos face às alergias”.
Atualmente, a investigação do médico Munblit está centrada numa revisão sistemática de todos os estudos prévios sobre a forma como o leite materno influencia no funcionamento e reforço do sistema imunitário dos recém-nascidos. O passo seguinte seria passar o conhecimento do seu mecanismo de ação a práticas clínicas que melhorassem a saúde dos neonatos.