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EDITORIAL: Open Data & Public Information

Todos assistimos nestes últimos tempos ao maior exercício de partilha de dados em tempo real e à escala global que alguma vez pudéssemos imaginar.

Desde o site oficial da OMS ou da UE, passando por simuladores como o do Medcids da Universidade do Porto, ou os do IHME (Institute for Health Metrics and Evaluation) até aos agregadores de dados sobre estatísticas globais como o popular Worldometer, o mundo inteiro pode realizar simulações, projeções e saber a qualquer instante o número de casos, mortos e recuperados da infecção por covid19, assim como uma variedade de outras informações.

Mas esta informação publicamente acessível está a dar origem a uma nova era sem precedentes na história da humanidade e com impactos evidentes na gestão e nas medidas que um governo possa tomar.

Um exemplo, o caso do milagre português, tal como mencionado no recente programa da TVE (informe semanal). Ficou bem patente que a sociedade civil se antecipou uma semana à medida oficial de quarentena oficialmente decretada pelo governo. Isto jamais poderia acontecer se todo o país não tivesse acesso à crescente escalada de mortalidade em países como Itália e Espanha, em tempo real.

Num outro extremo, o governo federal do Brasil que tenta ‘branquear’ o impacto na saúde pública do Covid-19 enquanto os governos dos principais estados do país, decretam quarentenas unilateralmente.

Dados para todos os gostos

A média em estatística pode ser o resultado mais enganador e essa máxima ganha uma nova expressão na interpretação dos dados em saúde.

Por exemplo o Brasil é o segundo país do mundo com maior número de casos por Covid-19, logo após os EUA, mas quando observamos os seus números de mortos por milhao de habitantes (107) esse país fica atrás dos 129 de Portugal, país que é considerado exemplar na Europa.

Para não falar nos dados da própria mortalidade diária do Covid-19, em que o número de mortos é inferior ao das pessoas que morrem diariamente por doenças respiratórias e longe das quase 50.000 mortes diárias por doenças cardiovasculares.

Os dados e a recuperação económica

Mas para além da gestão de crise, a partilha pública de dados poderá ajudar a uma melhor tomada de decisão na recuperação económica e na criação de riqueza que o mundo agora precisa.

Um dos aspetos mais importantes para um país como Portugal (e para a Europa no seu conjunto) é o turismo. Como podem os dados em saúde ajudar à recuperação da confiança necessária para a livre circulação de turistas?

A Espanha já está a realizar um piloto para testar a eficácia de uma App de rastreamento de potenciais contágios. Tal como anunciado no El País, a vice-presidente do governo, Nadia Calviño, escolheu a Comunidade Autónoma das Canárias para a realização deste piloto que tudo indica usará o modelo descentralizado DP-3T, liderado pela Universidade Politécnica de Lausanne e baseado no sistema de interoperabilidade que o Google e a Apple oferecem.

Segundo revelou a essa fonte: “As Ilhas Canárias são ideais devido à importância do setor de turismo, a importância do uso de aplicativos para que os turistas se sintam seguros e é ideal porque possui um governo regional muito comprometido com a redução segura”, disse Calviño.

No entanto, segundo a BBC, o NHS inglês rejeitou este modelo. O aplicativo de rastreamento de contatos de coronavírus do Reino Unido irá usar um modelo diferente do proposto pela Apple e pelo Google, apesar das preocupações levantadas sobre privacidade e desempenho.

O NHS diz que tem uma maneira de fazer com que o seu software funcione “suficientemente bem” nos iPhones, sem que os usuários tenham que mantê-lo ativo e na tela.

O NHSX (o braço digital do NHS) optou por usar as transmissões sem fio Bluetooth para acompanhar cada reunião qualificada e afirmou que os alertas serão enviados anonimamente, para que os usuários não saibam quem os acionou.

O Reino Unido opta assim por um “modelo centralizado” que envia os alertas a partir de um servidor central. Isto contrasta com a abordagem “descentralizada” da Apple e do Google – onde as correspondências ocorrem nos aparelhos dos usuários.

Mas o NHS acredita que um sistema centralizado fornecerá mais informações sobre a disseminação do Covid-19 e, portanto, sobre como fazer evoluir o aplicativo para dar informação mais pertinente.

E em Portugal?

Nos passados dias 7 e 8 de Maio, no âmbito do Health Data Forum, teve lugar um Ideas Lab sobre este tema e as conclusões podem ser vistas aqui:

Mas existem mais aspetos associados ao valor económico dos dados em saúde. Num webinar recente organizado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) dedicado à “Transformação Digital em Saúde”, José Carlos Nascimento, do Ministério da Economia, esclareceu que o maior catalisador da Transformação Digital em Saúde seria a economía circular de dados.

No próximo dia 28 de Maio este tema poderá ser de novo abordado, agora no contexto mais amplo da sessão – Open Data & Public Information, agora com a presença de responsáveis políticos e gestão de topo na saúde em Portugal, Dra Teresa Machado Luciano (Secretária Regional de Saúde dos Açores) e o Dr Luís Goes Pinheiro (ex-secretário de Estado no XXI Governo e atual presidente do SPMS) e o Sub-diretor da NOVA IMS Miguel Castro Neto.

Num contexto de ‘Open Data’ qual poderá ser o valor acrescentado de partilha de dados em saúde? Deverá ser o Estado o único protagonista? Como gerar um consenso político para a existência de parcerias para a exploração de dados em saúde? Fará sentido a criação de um operador Europeu de dados em saúde, usado de forma indistinta por prestadores públicos e privados? Para assistir à transmissão em direto no Facebook ou participar nos debate inscreva-se aqui.

By | 2020-08-31T20:33:53+01:00 Maio 25th, 2020|Categories: EDITORIAL|Comentários fechados em EDITORIAL: Open Data & Public Information

About the Author:

Uma Trajetória de Sucesso em Colaboração, Inovação e Empreendedorismo Social --> Formação Acadêmica e Experiência Docente: Formado em Psicologia Social e das Organizações pelo ISPA, Paulo Nunes de Abreu possui um mestrado em Gestão de Informação pela Universidade de Sheffield e um doutoramento em Ciências da Gestão pela Universidade de Lancaster. Entre 1996 e 2000, foi docente no Instituto Superior de Psicologia Aplicada e na ISEG (Escola de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa). Experiência profissional como Consultor: Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, Paulo Nunes de Abreu concluiu o seu doutoramento em 2000. Desde então, acumulou vasta experiência como consultor, colaborando com o Governo Regional da Madeira (Direção Regional de Saúde) e participando em diversos projetos de consultoria e investigação com instituições de renome como o ISEG, INETI, Câmara Municipal de Évora, EDP, Ministério da Saúde de Portugal, Eureko BV, Observatório Europeu da Droga e PWC em Espanha. Especializações e Contribuições Relevantes: Certificado como facilitador profissional pela IAF (International Association of Facilitators), Paulo Nunes de Abreu teve um papel crucial na criação das Cimeiras Ibéricas de Líderes de Saúde em Espanha e foi co-fundador do Fórum do Hospital do Futuro em Portugal. Especializado em GDSS (sistemas de apoio à decisão em grupo), projetou intervenções para otimizar processos de mudança e inovação nos setores de saúde e educação. Atuação Atual e Abordagem Profissional: Desde 2021, Paulo é co-fundador da Debate Exímio Lda, uma spin-off do col.lab | collaboration laboratory Ltd., empresa sediada em Londres e editora da série de livros "Arquitetar a Colaboração", que aborda princípios, métodos e técnicas de facilitação de grupos. A sua trajetória, combinada com a experiência como residente em vários países e atualmente em Portugal, moldou uma abordagem profissional focada em colaboração, inovação e empreendedorismo social.