O SESARAM – Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira – é a primeira organização pública portuguesa selecionada para desenvolver e implementar o programa FOCUS, uma iniciativa que visa eliminar a transmissão do VIH e hepatites virais. É um programa de saúde pública desenvolvido desde 2010 nos Estados Unidos, através do qual já foram realizados mais de nove milhões rastreios sanguíneos para o VIH, hepatite B e hepatite C. A sua implementação foi possível graças ao acordo de colaboração entre o Instituto de Administração da Saúde, IP-RAM, o SESARAM e a Gilead Sciences, promotora da iniciativa nos EUA e que financia o projeto em Portugal.
“A implementação do programa FOCUS vem dar ainda mais impulso ao trabalho que temos vindo a desenvolver na Madeira, onde já tínhamos implementado o rastreio de hepatite C nas unidades móveis de toxicodependência e nos Centros Comunitários da região. Com este programa alargamos a nossa atuação aos mais importantes vírus transmitidos pelo sangue, o VIH e os vírus das hepatites B e C, num modelo integrado disponibilizado a toda a população, nos centros de saúde e nos hospitais, através de algoritmos informáticos avançados que vão permitir diagnosticar mais pessoas, garantindo em simultâneo o melhor uso e poupança de recursos”, explica Pedro Ramos, Secretário Regional da Saúde. “A estratégia da Madeira é uma estratégia sempre de investimento nas abordagens mais inovadoras para prevenir a doença e promover a saúde”, acrescentou.
Para Vítor Papão, Diretor Geral da Gilead Sciences, “o programa FOCUS é uma iniciativa de saúde pública que permite aos parceiros desenvolver e partilhar as melhores práticas no rastreio de vírus transmitidos pelo sangue (VIH, Hepatite B, Hepatite C), diagnóstico e ligação aos cuidados de saúde de acordo com as diretrizes de rastreio nacionais e de iniciativas como as Fast-Track Cities. Estamos muito satisfeitos por apoiar a região da Madeira nos seus esforços contínuos e pioneiros para rastrear e fazer a ligação aos cuidados de saúde das pessoas infetadas pelo VIH e pelos vírus da hepatite B e C”.
De acordo com investigadores do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, Portugal não se encontra entre os países bem posicionados para atingir o objetivo de eliminação da hepatite C até 2030, defendido pela Organização Mundial da Saúde. Uma das soluções para Portugal pode ser a estratégia da microeliminação, defendida pela Associação Europeia para o Estudo do Fígado, e por muitos dos que estão no terreno como por exemplo Gonçalo Lobo, da associação Abraço, para quem há “dois territórios que, devido à insularidade, se configuram como profícuos para a eliminação da hepatite C: a Região Autónoma dos Açores e a Região Autónoma da Madeira.”
Médicos como Vítor Magno Pereira, do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Dr. Nélio Mendonça no Funchal, depositam grande esperança na implementação do programa FOCUS na Madeira, que pode assim converter-se num exemplo de sucesso para todo o país. “Na Madeira temos uma situação privilegiada, uma vez que os hospitais e os centros de saúde partilham os mesmos serviços informáticos, os mesmos laboratórios e até a mesma gestão. É uma forma de funcionar muito próxima, para benefício dos utentes, mas também do próprio sistema. No programa de rastreio da Madeira”, continua o clínico, “o algoritmo informático vai permitir identificar automaticamente os utentes que devem ser rastreados, com base em critérios bem definidos e sem que os médicos tenham de perder tempo precioso da consulta. Ao mesmo tempo, um utente que já tenha sido rastreado no centro de saúde não voltará a fazê-lo uma segunda vez se for visto no hospital, e com isso vamos evitar desperdícios importantes”.
O lançamento do programa vai também coincidir com a utilização de novas tecnologias nas próprias análises, uma vez que a Madeira vai pilotar a confirmação da infeção por hepatite C através do teste de antigénio “core”.
A implementação do programa FOCUS no SESARAM permitirá diminuir o tempo entre o rastreio, o diagnóstico e o tratamento, respondendo a diversas recomendações internacionais, nomeadamente da OMS e da UNAIDS.
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