Quando há um ano escrevi pela primeira vez sobre esta pandemia a OMS ainda não a tinha declarado como tal, mas já era bem visível o caos que causava na China. Se nessa altura tivesse ocorrido um rápido confinamento global sincronizado com o confinamento da China, jamais essa epidemia chegaria onde chegou.
Mas quem tem autoridade para decretar a paralisação mundial de qualquer tráfico de passageiros entre todos os aeroportos e portos, impedir a circulação de pessoas por automóvel num raio de poucas dezenas de quilómetros? Aquilo a que em inglês se poderia designar por “global unified lockdown”?
Teria a humanidade a capacidade para criar tal sistema de decisão política ao mais alto nível e com este nível de prontidão? Poderia o próximo mandato do Secretário-Geral da ONU incluir esta prerrogativa aceite por todos os seus membros? Esta não é uma questão trivial. Estamos a falar de como um assinalável prejuízo económico à escala mundial podería ter evitado um prejuízo incalculável e com consequências históricas imprevisíveis.
Não estamos livres que em qualquer momento, um novos vírus volte a aparecer e desta vez com muito maior patogenicidade. Uma melhor coordenação de atuação à escala global é urgente e necessária.
Tampouco estamos livres que este atual SARS-CoV-2 possa mutar em algo que venha a dizimar muitas mais vidas e a causar um nível de stress sem precedentes ao conjunto das populações humanas que povoam este planeta já duramente fustigadas pelos efeitos das alterações climáticas.
Apesar de estarmos a ver a luz ao final do túnel, a verdade é que não podemos baixar (nunca mais) a guarda e como diz o Diretor-Geral da OMS “Until we end the pandemic everywhere, we will not end it anywhere”
Esta ‘nova normalidade’ apresenta sérios desafios éticos claramente identificados pelo OMS (Working Group on Ethics and COVID-19). Desde a alocação de recursos e definição de prioridades, distanciamento físico, vigilância da saúde pública, direitos e obrigações dos profissionais de saúde para a realização de ensaios clínicos, e um largo etc.
Na última mesa redonda preparatória da Cimeira das Regiões de Saúde onde foi debatida a questão do “passaporte COVID19” foi consensual a importância da existência de um mecanismo para possibilitar o circulação de pessoas em segurança e desenvolver rapidamente o turismo e a vastidão de atividades económica que lhe estão associadas. Foi proposto o emprego de um termo mais neutro – certificado de vacinação – uma sugestão que felizmente virá a ser adotada (transmissão integral no YouTube)
O semanário Expresso anunciou já que a presidência portuguesa irá propôr que este “certificado verde”, seja comum a todos os países da União e esteja disponível nos próximos meses.
Global Virtual Conference on Bioethics and the Coronavirus Pandemic
Mas estas e todas as grandes questões associadas aos impactos bioéticos da COVID19 serão abordadas com rigor e profundidade nos próximos dias 10 e 11 de Março, durante a próxima Conferência Global sobre Bioética organizada conjuntamente pela Universidade de Haifa e pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e presidida pelo Professor Rui Nunes.
O programa destes dois dias de conferências virtuais inclui vários painéis pejados de oradores convidados oriundos de todo o mundo e que irão partilhar o conhecimento mais atual nas seguintes temáticas:
- Bioética e Saúde Global
- COVID19 e Direitos Humanos
- Ética Médica e Integridade Profissional
- Justiça no Acesso aos Cuidados de Saúde
Contando já com mais de 800 inscritos, os interessados poderão consultar aqui o programa e realizar as suas inscrições a partir deste enlace.
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Crédito da imagem de capa: Blog da Carglass.